Castelo Branco: contar e refletir


25 de Novembro
Castelo Branco

A minha recente passagem por Castelo Branco, a convite da Biblioteca Municipal correu bem, mas fez-me pensar...
De manhã estive com as turmas de animação cultural da Etepa (escola profissional) e resolvi falar de mediação cultural, para além dos contos, livros e textos que apresentei. O resultado foi bastante positivo; acho que nunca tinham conhecido um “animador cultural” do terreno... Acho que os professores da escola gostaram da sessão e não resisti a falar-lhes do Forte da Casa, do Movimento 14 – 20 a Ler+ - afinal estão reunidas todas as condições para nascer um projeto de capacitação dos jovens e promoção da intervenção cultural na comunidade. Seria uma bela lufada de ar fresco!
Sempre acompanhado pela Cláudia Cravo (Biblioteca Municipal) e agora, com Pedro Gomes (Rede de Bibliotecas Escolares) fomos a um lar, de uma aldeia, sede de freguesia, perdida no meio das serranias. Sempre a puxar pela participação dos mais velhos, cantei modinhas e contei: recebi algumas reacções positivas. Quando puxei de um livro de imagens, foi como se tivesse poisado um OVNI na sala. Não sabiam que objeto era aquele e tiveram muita dificuldade em entender a minha intenção comunicativa. Acho que as diligentes e carinhosas funcionárias, também não entendiam o que fazia ali aquele objeto. Num armário louceiro, um televisor (desligado para a ocasião) dominava o espaço de convívio, como se fosse uma lareira central num lar, destinada à comunicação entre as pessoas. A verdadeira lareira, essa pequena e construída a um canto da sala, estava apagada. A terminar, ainda um livro que falava de marinheiros e ondas; comecei a cantar, “Vou-me embora vou partir...” do Zeca Afonso. Nesse momento, um senhor que nunca tinha falado começou a cantar comigo, baixinho , é certo, mas aqueceu-me por dentro. De regresso a Castelo Branco viemos a comentar sobre o que se pode fazer em mediação para a literacia destinada a estas pessoas. Pensei no contraste entre lares do Concelho – outros onde já fui contar, em que os idosos são estimulados com afecto, sem paternalismos, propondo sempre novos interesses e horizontes, enquanto o corpo e a mente o permitirem. Fica aqui a minha gratidão por mais um desafio da Biblioteca Municipal e parabéns por este projeto de continuidade onde têm participado outros colegas narradores, como o meu amigo Thomas Bakk que, de certeza, aqueceu as salas dos mais velhos...
Mediando a "Surpresa de Handa" (em Big Book) num lar da terceira idade (Castelo Branco)


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