Gambozino (Wolpertinger)

"Lisboa, 1860
Querido irmão, espero que os teus estejam todos de boa saúde aí nas terras da Germânia. Mas o motivo desta minha breve missiva deve-se só à enorme necessidade de partilhar contigo os últimos desenvolvimentos das minhas pesquisas animais na “lezíria grande” de Vila Franca.
Apresentei na Academia das Ciências, com grande alvoroço dos meios académicos pensantes da nossa cidade, a minha teoria sobre a origem do Gambozino e do seu carácter migratório. Incrédulos, os meus pares escutaram a minha longa alocução bem fundamentada e, felizmente fluente, sobre as características deste animal fantástico, classificado por alguns como uma “Quimera”.
Pois esta besta da criação divina apresenta simultaneamente características de um coelho, lobo, castor, pato e veado na sua aparência morfológica. Com a captura e estudo desta criatura, que mais parece uma aberração, ficou definitivamente desvendado este mistério que tem gerado uma grande variedade de histórias da nossa tradição oral. Isto para não falar de um cem número de partidas e brincadeiras feitas nas margens dos nossos rios. Sendo um animal nocturno e de hábitos lacustres, calculas as horas de trabalho no Mouchão do Tejo de candeias acesas na demanda de tão fantástico animal: silêncio, passos seguros e gestos lestos permitiram capturar esta variedade natural que se ficou a debater dentro de um saco de serapilheira para progresso da ciência e do conhecimento universal. Pela observação do terreno ao longo das várias estações do ano, concluí que o animal se ausenta das margens dos nossos rios com o aproximar do Estio, o que vem confirmar as observações feitas na Baviera, na localidade de Ratisbona (Regensburg), na margens do belo Danúbio. Esta criatura é conhecida na Germânia pelo nome de Wolpertinger e, segundo informantes locais, só faz a sua aparição nos meses quentes de Julho e Agosto nas margens do grande rio Bávaro. Concluí, portanto, que o animal é migratório. Junto envio uma gravura a ponta seca elaborada pelo mestre gravador Miguel Horta que a criou sob as minhas rigorosas instruções.
Eis como o Gambozino da nossa infância deixou de ser uma quimera!...
O teu irmão saudoso."
Wikipedia:  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:1996_miguel-horta-wolpertinger_1-520x290.jpg

Comentários

  1. E agora quem se atreve a dizer que não existem gambozinos...?

    Jacqueline

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  2. "O teu coração parece
    Uma pedar sem destino
    Dizem que só amolece
    Ao canto de um gambozino."
    (autoria atribuída a João Monge)

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  3. Não resisto a deixar aqui a preciosa informação enviada pelo meu amigo João Fraga (Faial):
    Laredo - Muitas e grandes pedras, principalmente no fundo do mar.
    Manuel Ávila Coelho (Frei Pedro)
    VOCABULÁRIO REGIONAL DAS ILHAS DO FAIAL E PICO
    Núcleo Cultural da Horta (Açores)
    Separatas do Vol. 3, nºs 1 e 2
    Boletins de 1963 e 1963

    Gambusia Affinis (Baird & Girard)
    ... It is strange that one of the man's most useful fishes should be given a genric name derived from the Spanish slang gambusino, which means "wothless."
    The Encyclopedia of Freshwater Tropical Fishes
    Expanded Edition
    Axelrod, H.
    Emmens, C.
    Pronek, N.
    Axelrod, G.
    5ª edição revista e aumentada
    copyricht 11996 T. F. H. PUBLICATIONS, INC. USA

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  4. Ando com os neurónios meio preguiçosos, mas depois de te escrever, lembrei-me de outro pormenor das férias da minha infância na Ponta da Ilha (Pico): " Aquilo é um laredo bom para lapas!"
    Abraço
    j C Fraga

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  5. Fiquei muito feliz por ver a tua ilustração, mas eu já comprovara há muitos anos a existência de gambozinos. Nos raids nocturnos dos escuteiros, antes dos "fogos de conselho" e outros que tais, normalmente caçávamos gambozinos! Aliás, quem não apanhasse pelo menos um arriscava-se a provas bem mais difíceis!
    Portanto, Jacqueline, não há MESMO que duvidar!... ;)

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