Forte em Leitura: Comentando as palavras de Maria Emília Brederode dos Santos

 


Ao iniciar um novo projeto no Agrupamento de Escolas do Forte da Casa,
o “Forte em Leitura”, pego na recente entrevista (9/01/2022) ao JN e à TSF
de Maria Emília Brederode dos Santos,
Presidente do Conselho Nacional de Educação, 
para refletir um pouco sobre o nosso trabalho, lançando o debate
e conferindo o rumo para este ano letivo.
Têm sido tempos conturbados, com pouca possibilidade de intervir livremente,
lado a lado com os docentes, junto dos alunos;
a pandemia, a que o agrupamento tem respondido eficazmente,
limita o contacto presencial acrescentando mais uma dificuldade
a outros constrangimentos habituais da escola atual.

Entrevista AQUI

O projeto “Forte em Leitura” surge no seguimento do trabalho inserido no “Movimento14/20 a Ler” (Plano Nacional de Leitura), entre 2018 e 2021, com turmas do Ensino Profissional do Agrupamento, articulado com um outro projeto no mesmo Agrupamento, "Ler e escrever, é começar", candidatura selecionada em 2019 pelo Programa Todos Juntos Podemos Ler, da RBE Rede de Bibliotecas Escolares. Leitura e Mediação são assumidas como prioridades, com epicentro na Biblioteca Escolar, envolvendo os diversos profissionais que atuam junto dos jovens dentro da escola e estabelecendo parcerias exteriores, bastante positivas, com a Casa da Juventude do Forte da Casa e Biblioteca Municipal da Quinta da Piedade, contando com o acompanhamento pela Rede de Bibliotecas Escolares. Uma parceria entre as Bibliotecas Escolares  do Agrupamento de Escolas do Forte da Casa e a Laredo Associação Cultural. O projeto atual recebe alunos, docentes e pessoal não docente, dando corpo a uma perspetiva inclusiva da Mediação Leitora, onde as Bibliotecas Escolares se apresentam como lugares de contraponto às exclusões sociais, culturais ou associadas à diversidade funcional.

O “Forte em Leitura” tem uma grande componente formativa alargada a todo o universo de profissionais que laboram na escola, incluindo tempo previsto para experimentação autónoma em situação letiva em todos os ciclos de ensino, enquadrado por acompanhamento de sessões de mediação leitora por formadores, entremeado por momentos presenciais e encontros via Google Meet. Paralelamente a este itinerário de formação contínua, creditada com a parceria do Centro de Formação de Associação de Escolas Infante D. Pedro (Alverca do Ribatejo), decorre o enriquecimento das coleções das bibliotecas, incluindo todos os suportes, do papel ao digital, e a apropriação destes recursos nas práticas de leitura de alunos e profissionais, tanto para fins curriculares e profissionais como para tempos de lazer - por prazer e enriquecimento cultural e pessoal.

Reunião de trabalho do Movimento 14 - 20 a Ler+ (PNL)


Procuraremos desenvolver toda a nossa ação aproveitando as características verticais do agrupamento, que conta este ano com mais de 2000 alunos, do 1º ao 12º ano, e ainda 3 Cursos de Especialização Tecnológica. Propusemos aos alunos do secundário a concretização de momentos de treino e experimentação de mediação (laboratórios) junto dos colegas do ensino básico. A mesma abordagem vertical e transversal ao curriculum estende-se à capacitação de docentes do ensino básico e não docentes do agrupamento trabalhando junto destes níveis de ensino. Sendo um projeto inclusivo, partilham-se sempre, colaborativamente, metodologias e ferramentas aplicadas na “Educação Inclusiva”, junto de outros intervenientes no processo educativo. É nossa intenção juntar cada vez mais professores de diferentes disciplinas e pessoal não docente a esta proposta pedagógica, bem como técnicos de entidades parceiras das estratégias educativas - como os estágios previstos nos Cursos Profissionais no 12º ano, e que decorrem fora do Agrupamento.


Ao lermos um artigo de referência, é natural que olhemos para a nossa prática
pedagógica, conferindo mentalmente o que correu bem ou menos bem, sobretudo o que permanece, projetando também o plano de intenções para o nosso trabalho. Alguns temas ficarão de fora – outros pensam melhor que eu sobre situações específicas como, por exemplo, a avaliação; será sempre o ponto de vista do mediador. 

Conferindo a nossa prática
a partir das palavras de Maria Emília Brederode dos Santos

A partir das palavras de Maria Emília Brederode dos Santos, vou revendo, ao correr da pena, a intervenção da Laredo e da equipa da escola na Biblioteca Escolar do Forte da Casa que propõe a inclusão dos jovens leitores e a acessibilidade à coleção e conteúdos. Afirma MEBS que a “Escola tende a reproduzir os modelos de exclusão que existem na sociedade”. Concordo, por isso trabalhamos na contracorrente, tendo iniciado em Janeiro o projeto “Forte em Leitura”. A presença da Biblioteca Escolar numa escola “colorida”, com alunos de múltiplas origens, culturas e problemáticas variadas, é uma janela de inclusão e uma oportunidade para desenvolver outras práticas pedagógicas junto do ensino profissional com extensão a outros graus de ensino deste agrupamento vertical. Acreditamos que a leitura e a coleção, a mediação leitora em diálogo formativo com docentes e não docentes, ajudam a construir essa resposta inclusiva tão necessária à escola atual. A mediação, como contraponto ao ensino expositivo, tende a abrir os horizontes de literacia nos jovens participantes; a estrutura de projeto prevê a relação ativa com outras estruturas locais exteriores à escola como a Casa da Juventude do Forte da Casa e Biblioteca Municipal da Quinta da Piedade, contribuindo para essa abertura ao mundo. Os estágios realizados pelos alunos das turmas do ensino profissional e a presença de alguns conteúdos abordados pelo projeto nas provas Provas de Aptidão Profissional por eles realizadas, são já parte dessa realidade que se deseja mais efetiva, tentando esbater “o enorme contraste entre aquilo que se aprende e aquilo que se vive lá fora, que vai acontecendo” ( Maria Emília Brederode dos Santos).


No seu artigo, a pedagoga reflete sobre o ensino profissional, que afirma ser a “menina dos olhos da atual tutela”, aproveitando para questionar:Essa valorização política tem sido acompanhada da efetiva valorização da formação e das competências dos alunos que seguem esta via?” É precisamente aqui que a autonomia da escola, a natureza do seu projeto educativo e a sua dinâmica educativa, fazem toda a diferença. Reconhecemos como central a necessidade de capacitação efetiva dos diferentes profissionais que trabalham na escola e sabemos que a Biblioteca Escolar pode ser uma Àgora, lugar para a reflexão e transformação das práticas educativas, como extensão do apoio curricular, que faz parte da sua missão; um centro de recursos é um laboratório aberto à compreensão das constantes mudanças do mundo contemporâneo. As metodologias não formais aplicadas no projeto “Forte em Leitura” despertam outras competências mentais e físicas adormecidas por “um ensino com excesso de programas e avaliações” (MEBS); acrescentaria que a pandemia acrescentou desequilíbrios que agora reconhecemos, na nossa relação com os alunos. A intervenção de docentes e mediadores transpondo as barreiras dos programas e da postura idiossincrática da escola, deverá promover junto dos alunos outras competências (também referidas por MEBS), como a palavra e a comunicação, o desenvolvimento do pensamento crítico (também a reflexão filosófica) e a capacidade de trabalhar colaborativamente em ambiente de projeto.


Em determinado passo da entrevista, MEBS reconhece a necessidade de uma maior presença de mediadores (com diferentes funções) na escola, justificando a sua opinião: “ A pandemia veio mostrar como a escola desempenha uma multiplicidade de funções para além da função essencial, que é fazer com que todos aprendam. Para isso, tem que assegurar a satisfação de necessidades básicas, como a alimentação; tem de assegurar a segurança dos alunos, como por exemplo ver alertas quando há crianças que estão em perigo de maus-tratos ou negligência; há a função de socialização que, no estudo que nós fizemos, foi a principal função prejudicada. Para isso, tem que haver uma multiplicidade de outros profissionais, por exemplo mais mediadores”. Aproveito a boleia das palavras para falar de um sonho com 4 anos - a criação de um curso profissional de Mediação Cultural do Agrupamento de Escolas do Forte da Casa, abrangendo as diferentes vertentes da profissão. Quase ao mesmo tempo do referido artigo, foi publicado em Diário da Republica o código de IRS, 2016 , atribuído aos mediadores culturais.

Maria Emília Brederode dos Santos lança outro tema, a aprendizagem na atualidade e as questões de género, um ponto tão importante que mereceria um texto autónomo, mais aprofundado. Todos nós sentimos a diferença na composição das turmas segundo área profissional - mais rapazes nos cursos de multimédia, viticultura ou mecânica, mais raparigas nos cursos de técnicos de apoio à infância ou saúde, mas mais paritária na cozinha/culinária. O alarme vem surgindo, nós sentimos; na sua macro análise, a autora refere: "Notou-se mais a descida do interesse pela escola nas raparigas, mas a verdade, apesar de tudo, a escola parece muito mais adequada ás raparigas do que aos rapazes".  Efetivamente, do ponto de vista do mediador, é mais difícil seduzir os rapazes para a leitura. Será que no nosso discurso educativo nos esquecemos de muscular as palavras? A prática da leitura tem sido permeada pela permanência de preconceitos machistas presentes na sociedade e a escola tem sido incapaz de construir uma contracorrente sólida a essas ideias veiculados por um primarismo tolerado. No nosso projeto, temos trazido o corpo para a educação, aliando palavra ao movimento em dinâmicas que são do agrado de todos. Tanto rapazes como raparigas apreciam esta abordagem física do curriculum, ou paralela a ele, proposta nas sessões do "Forte em Leitura". Mas de facto, na pressa de acudirmos às primeiras carências em leitura, não temos abordado suficientemente o tema da igualdade de Género nas nossas sessões... 

 


 

Ainda, uma palavra para outra opinião de MEBS sobre a presença do Digital na escola. Concordo com o que diz a autora, “o digital deve ser uma ferramenta de apoio a uma pedagogia ativa”. É dentro desta linha de trabalho que temos vindo a desenvolver o projeto “Forte em Leitura”. Não só damos uma atenção especial às turmas de Multimédia que concentram, habitualmente, um número significativo de jovens com um fraco percurso escolar e outros sinalizados pela Educação Inclusiva, como elegemos algumas ferramentas e recursos digitais como meio de expressão e comunicação do nosso trabalho. A Leitura surge em podcast feitos pelos alunos, permitindo uma autoscopia do seu desempenho, as performances surgem em pequenos vídeos (vídeo-poemas); mas temos consciência de que estamos longe de potenciar, em contexto de projeto, a totalidade destes recursos. Uma das constantes da nossa atuação é o recurso ao telemóvel como bloco de notas (registo) e a promoção deste meio como ferramenta criativa, recurso para pesquisa, enfim, interface de comunicação com o mundo.

O “Forte em Leitura” vai medindo os seus passos com o contributo de todos, espelhado nos momentos formativos, onde a opinião de docentes e não docentes conta para a persecução do rumo.



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