Código 2016 IRS - Bout de souffle

 

Com esta fotografia (já com 19 anos) relembro Lurdes de Castro
Fotografia captada no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
também lugar de crescimento como Mediador 

A 7 de Janeiro deste ano foi publicada, em Diário da República, uma portaria (com origem no Ministério das Finanças) que estabelece a tabela de classificação de atividades, atribuindo códigos a funções que ainda não estavam contempladas no domínio das Artes, a saber: Mediador cultural e artístico (código 2016), Técnico de apoio à atividade cultural e artística (código 2017) e Professores ou Educadores artísticos (código 8013) (1). Esta iniciativa surge na sequência da aprovação na Assembleia da República do Estatuto dos Profissionais da Área da Cultura (EPAC) em anexo ao Decreto -Lei n.º 105/2021, de 29 de novembro, com o objetivo de criar as condições para o desenvolvimento de um setor cultural dinâmico e equilibrado, que garanta boas condições de trabalho aos seus profissionais, de forma a potenciar a respetiva criatividade e criação artística. (cito)

De repente, o surgimento de um código que é atribuído ao nosso labor criativo atribui-nos visibilidade, reconhecendo a existência de um espaço, um “mercado”, um lugar profissional. Sou Mediador Cultural há 47 anos (com berço no Centro de Apoio às Organizações de Base – finais dos anos setenta), tantos quanto tenho de artista, dupla condição partilhada com tantos colegas de trabalho. A nossa intervenção estende-se a Museus, Bibliotecas (Públicas, escolares ou comunitárias), Teatros e Centros Culturais, lugares de Património, Escolas, Hospitais, Lares e outras instituições, Juntas de Freguesia, Associações, Bairros e tantos outros lugares em constante comunicação direta, tão diversa do trabalho em gabinete. Plural é a nossa expressão e diverso o nosso conjunto de ferramentas para a expressão afirmativa. Trabalhamos com pessoas, transmitindo, acordando ou “ativando pessoas”, como afirmou Francisco Sena Santos numa crónica transmitida esta semana na Antena 1 (RDP). Sabemos que a qualidade de vida passa por aqui, pelo que fazemos, em todas as idades e, como sempre, estamos presentes com este trabalho profundamente humano. Somos a linha que une a produção cultural ao público, a voz que questiona, aqueles que devolvem a palavra e a descoberta para que o outro se vá construindo em autonomia, fortalecendo a sua capacidade de mudar o mundo em que vivemos. Somos atentos ao meio que nos rodeia aprendendo a ler os sinais da transformação permanente; sabemos que os tempos nos têm levado a um “Retorno ao Privado” (citando Orlando Garcia), migração pessoal e inconsciente acentuada pela pandemia, de braço dado com a prodigiosa velocidade dos meios de comunicação digital. Somos essa conta-corrente que une, que se questiona continuamente numa produção reflexiva, incluímos sem intrusão tendo consciência do tempo próprio dos processos humanos. De certa forma, a Mediação vai trabalhando a ecologia do Ser ou, para os crentes, também uma ecologia da Alma.

No momento em que escrevo estas linhas, tenho sempre presentes os meus mestres da Mediação, Madeira Luís (que já nos deixou), Esaú Dinis e tantos outros que contribuíram decisivamente para a minha formação em intervenção cultural e social. Daqui envio um abraço ao meu colega Carlos Carrilho por ter acordado (de novo) o espírito de combate pelo nosso estatuto e naturais direitos.

(1) E, ainda, Conservador-restaurador.


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