Pop it: Um brinquedo sensorial

 

Os objetos tornam-se fantásticos,
não se fecham sobre a sua utilidade ou função,
permitem a maleabilidade e a reutilização criativa;
nas mãos de uma criança compõem-se
e recompõem-se num pleno jogo simbólico

Temos a tendência para considerar o Pop it como um brinquedo desinteressante, apenas mais uma moda fugaz abraçada pelas nossas crianças. Dizem que serve para “descontrair”, (sabe-se lá o que isto quer dizer) e encontram-se facilmente em qualquer loja Made in China; o que é certo é que o poderemos colocar no grupo de brinquedos sensoriais que podem ser úteis em diversas terapias. Mas um olhar atento pode revelar potencialidades escondidas, demonstradas pelas próprias crianças na apropriação livre dos objetos lúdicos. A partir deste ponto, também nós pais e educadores poderemos pensar outras possibilidades de brincadeira com o objeto e entender os fenómenos de desenvolvimento cognitivo que estão associados. Quando uma criança decide inventar um jogo a partir de um objeto ou criar regras novas para um jogo existente, está a desenvolver um pensamento construtivo, motor para novos raciocínios, descobertas, e autonomia intelectual. Também a defesa, a discussão e partilha de novas regras e novos jogos com os amigos, envolvem competências sociais geradas pelo processo de argumentação e negociação; depois, a experimentação da novidade, se for boa, ou seja, divertida, é adotada por todos/as com grande prazer e alegria.

Tenho dois unicórnios, um colorido e o outro branco, que servem para a minhas observações e experiências. Logo quando os mostrei a um pequeno jogador, mostrou-me uma brincadeira, usando o reverso do jogo, a que chamou de “magia”, passando os dedos com destreza sobre a superfície ondulada do brinquedo fez surgir os alvéolos (concavidades) automaticamente1. Depois virou o brinquedo ao contrário e começou a caminhar com os dedos sobre todas as bolhas disponíveis. Fica claro que este objeto conversa muito com as mãos, ajudando no desenvolvimento da motricidade.

Pensando na matemática do primeiro ciclo, apetecia-me ter um Pop-it com as cores e respetivas casas das barras de Cuisenair2; poderia ser uma estratégia interessante de aproximação ao universo da aritmética. Ainda, estragando tudo com a mania da pedagogia, podemos fazer sopas de letras (ou jogos com números) sobre as bolhas do Pop-it branco, usando marcadores grossos que se podem apagar facilmente usando alcóol ou diluente sintético. Mas vamos ao que importa. Uma forma simples de jogar (tanto a par como em trio) é rolar um dado e movimentar os peões de acordo com a pontuação que sair. Ganha quem chegar primeiro à casinha do chifre do unicórnio – mas terá de obter conta certa, senão volta para trás, percorrendo o número de casas obtidas. Os peões podem ser substituídos por berlindes. (informante infantil...) Para jogar a “Bomba”, proposta pela revista Visão Júnior, é necessário um berlinde escondido no verso do Pop-it, numa concavidade secreta, sem que os outros jogadores saibam a sua localização. Jogando os dados, contam-se as casas onde poisará o nosso berlinde, amolgando a bolha; se por acaso não conseguirmos amolgar a protuberância, será porque no reverso se encontra escondido um berlinde e então a “bomba explode” desclassificando o concorrente. Bum!

Para jogar o “Pop contra Pop” (nome dado pelas crianças) são necessários dois Pop-it iguais ou com o mesmo número de casas. Jogam-se os dados e estes indicam quantas bolhas poderemos amolgar. Ganha quem conseguir completar primeiro o seu tabuleiro.Depois de lerem estas linhas aposto que já têm outras ideias para aplicar aos brinquedos

1 Ver mini-filme.

2 Barras de Cuisenair. Emile Georges Cuisenair (1891-1980). Matemático Belga que criou este material como apoio ao ensino dos conceitos básicos da Matemática. Cortou 10 réguas de madeira com tamanhos diferentes (seguindo unidades constantes) e atribuiu a cada uma cor, criando assim uma escala. Ver mais AQUI

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