Literacia para a Democracia: com a Comunidade Cigana da Outurela

A convite de Conceição Rolo (ALÉM), pedagoga e educadora que muito admiro, participei no Projeto Literacia para a Democracia, pela Laredo Associação Cultural. Uma intervenção em educação não formal junto da comunidade cigana da Outurela (Oeiras). A primeira sessão, na Portela de Carnaxide, decorreu na Sociedade Musical Simpatia e Gratidão com um grupo de mulheres ciganas de diferentes gerações, algumas com crianças (os homens não compareceram...). O tema do encontro foi a História do povo cigano, partilhada em jeito de conto; a narração oral foi uma das ferramentas eleitas, contei uma história Indo/Europeia que, quem sabe se não terá viajado como passageira da diáspora? Como objetivo para este primeiro contacto, quis criar um espaço de empatia, promovendo a escuta e a comunicação. Dei pistas sobre mim, falei do meu trabalho, depois dos conteúdos que me propunha abordar, abordei um pouco as origens da grande migração, sempre com referências à cultura cigana, acabando por narrar um conto dobre a Verdade. No meio de tudo isto larguei uma piada simples sobre o ouriço na gastronomia da etnia o que provocou o riso entre as mulheres. Acho que preparei o terreno para uma segunda sessão.

Neste outro momento, falaria do início da diáspora, no norte da Índia/Paquistão, relacionando algumas tradições atuais dessa região com costumes da comunidade em Portugal, depois partiria estrada fora em direção à Pérsia (época de ouro deste povo), acompanharia a chegada dos Árabes, a divisão do povo cigano em dois grupos, um dirigindo-se à Europa Central e o outro para a Península Ibéria, a etnia . Nesta narração não faltariam os reis de Portugal e a perseguição aos ciganos, o prolongar da diáspora até ao Brasil e a segregação constante no nosso país. Tudo isto, pegando pela palavra, dando a palavra, numa comunicação horizontal, justa, com muitas perguntas aos participantes, esperando respostas interessantes.

Infelizmente este segundo momento não aconteceu, um conflito entre dois grupos familiares, protagonizado por uma das mulheres abrangidas pelo projeto, descambou violentamente, criando insegurança. “Se houvesse um Homem de Leis no bairro este assunto resolvia-se” Como bem comentou Conceição Rolo sobre a ausência de um Patriarca; a existência desta figura familiar e tutelar garante a preservação da identidade e gera estabilidade entre a comunidade. O trabalho com a comunidade deve ser feito pelo lado de dentro, com tempo, aceitando o silêncio defensivo com que os ciganos projetem a sua intimidade cultural.

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