A propósito do projeto 365 Dias de Leitura

 


Discorrendo a pretexto do projeto de Cláudia Sousa, 365 Dias de Leitura, que tem decorrido ao longo do ano em diferentes espaços de Viseu. Agora com alguma distância temporal, ficamos com a noção da importância da sessão que aconteceu na noite de 19 de Novembro no Lugar do Capitão. A Cláudia andou de mesa em mesa apresentando os dois tipos de aparelhos que permitem o acesso à leitura de livros em ambiente digital. Esta interação com os leitores é fundamental – os projetos devem ter rosto e este tem, mesmo. O ler e dizer alguns textos durante a sessão, trouxe outra dimensão da palavra ao projeto.

Fiquei a pensar nos equipamentos e suas possibilidades. A tecnologia presente no Kobo Clara HD1 permite ter acesso a ilustrações a preto e branco, concomitantemente com a leitura da obra, o que me parece muito interessante não só para o leitor comum como para as crianças e adolescentes que poderão aceder a clássicos soberbamente ilustrados, como por exemplo, o Hobbit de Tolkien, na sua primeira edição em Portugal com o nome de “O Gnomo” com ilustrações de António Quadros ou Moby Dick (Herman Melville) com gravuras de Rockwell Kent2

Rockwell Kent

Qualquer leitor poderá carregar gratuitamente o equipamento com a obra que entender enrique
 cendo a “biblioteca digital” com o seu ponto de vista: a qualidade da edição, importa. Tendo a olhar para estes equipamentos como mediador e não tanto como leitor. A propósito deste ponto de vista, gostaria de falar um pouco sobre o Tefloreader que permite armazenar podcast, para além de ter um narrador digital, muito útil para situações de cegueira e não só. Num mundo ideal, teríamos à disposição dos nossos ouvidos as vozes dos autores, de atores ou de pessoas especiais para nós, lendo os livros3. Este equipamento inclusivo potencia outras utilizações em mediação leitora, sobretudo no trabalho em prol da escuta, que se tem vindo a perder para o universo contemporâneo feito da exaustão de imagens.

Uma das consequências imediatas deste trabalho de Cláudia Sousa foi a criação de um manual em Braille, inexistente até ao momento, para orientação de utilizadores cegos. Ainda uma situação simples e interessante, detetada pela consulta das pesquisas efetuadas no Kobo Clara que se encontra disponível num clube motard – a presença significativa de procura por títulos infantojuvenis. Este facto revela a frequência de leitores mais novos nos espaços onde se encontram os equipamentos, provando que existe um perfil leitor em cada local, ao qual deve corresponder uma coleção de base específica que se aproxime o mais possível de quem requisita; depois, autonomamente, os utilizadores irão acrescentando outros títulos.

365 Dias de Leitura é um projeto de Cláudia Sousa, financiado pelo programa Viseu Cultura - linha Programar (Câmara Municipal de Viseu) e conta com o apoio da Laredo Associação Cultural e de todos os locais que acolheram os equipamentos. A Laredo continuará presente no apoio a esta ideia bem atual de promoção e acessibilidade à leitura que, ao que tudo indica, terá continuidade no ano que se avizinha. A Biblioteca Municipal de Viseu abraçou esta iniciativa, que gostaríamos (igualmente) de ver espalhada pela rede de bibliotecas escolares do Concelho. Façam-nos chegar as vossas opiniões e sugestões para que o projeto se vá aprimorando. Obrigado.

1 Canso-me menos a ler neste equipamento do que no ecrã do computador habitual.

2 Lembro-me da sensação que tive ao folhear, pela primeira vez o livro, pela mão de Maria Keil.

3 Cada vez mais próximos das pessoas-livro em Farenheit 451 de Ray Bradbury ,que sabiam de cor todas as páginas de um livro, dizendo-as. A versão cinematográfica de François Truffaut marcou-me bastante, na minha adolescência.

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