Era uma vez, numa Biblioteca Escolar em Sousel


 
Antes do País se ter fechado

num longo retorno ao privado

notícia de uma intervenção

na Biblioteca Escolar de Sousel

que me deixou a pensar

nos jovens e na interioridade

A última intervenção presencial que fiz, antes da declaração de pandemia, foi em Sousel, com alunos do Secundário na Biblioteca Escolar do Agrupamento de Escolas de Sousel, onde fui recebido com imenso carinho e profissionalismo. Aliás Sousel, já se encontra marcado no mapa, devido a coordenadas de amizade, o que é sempre um bom augúrio. O desafio de Fátima Gonçalves, Professora Bibliotecária, consistia numa intervenção em Mediação Leitora, junto de 3 turmas do ensino profissional (secundário), menos sensibilizadas para a leitura. Para quem vê de fora, estas sessões podem parecer um funâmbulas, sem rede, com aqueles jovens todos de olhar fixado no mediador, rostos fechados, silêncio. Mas o que é certo é que trazemos a sessão preparada com um conjunto de textos e recursos, alguns provocadores, pensados para aquecer o grupo, criando dinâmicas de comunicação. É preciso ter em conta que a reação dos jovens tem muito a ver com a interioridade, o isolamento e a natural falta de convívio com produtos culturais, artistas e situações disruptivas criativas. Por outro lado, a composição destas turmas profissionais, abarca muitas situações de insucesso escolar e alunos referenciados pela educação especial. Sobretudo são jovens, gente crescida com linguagem própria e códigos de relacionamento que não entendemos na totalidade, mantendo nós um discurso educativo típico da Escola, que já gerou anticorpos. As intervenções junto desta população específica, contam com a ajuda de metodologias não formais e recursos artísticos que têm provado a sua eficácia em diversos projetos espalhados pelo país. Sugiro uma visita ao Projeto 14 –20 PNL Forte da Casa e a exploração das respostas criadas pelo projeto 10x10 Descobrir Gulbenkian.


A primeira turma, de Educação Física, foi convidada no início da sessão a participar, num conjunto de dinâmicas de corpo, palavra e movimento, que serviram de “quebra-gelo”, antes de começarmos a falar de literatura, conto... Com as outras turmas foi mais agreste; uma delas esteve em silêncio, quase sem expressão quase até ao final, tendo terminado com um aplauso sentido. Confesso que estive preocupado com a reação dos rapazes e raparigas... 
A última turma foi sendo trabalhada aos poucos, até estar mais próxima; cantei (!), lancei uma boa provocação aqui, um livro de imagens acolá - no final, os seus olhares revelavam bem como se sentiam. A Biblioteca Escolar deve ser parecida com esta - um porto de abrigo, também para os alunos mais velhos; estar bem preparada, ter recursos humanos e uma coleção variada, para receber estes alunos. Obrigado amigos, pelo momento que vivi.

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