Maio apressado

Um mês de Maio agitado, de um lado para o outro em diferentes projetos mas mantendo sempre as sessões com os grupos de necessidades educativas especiais no CAM (Descobrir/Gulbenkian) com a Margarida Vieira, desta vez centradas no Instrumentarium Baschet. Estas esculturas sonoras têm-se revelado muito úteis no trabalho com meninos autistas. A equipa tem vindo a explorar as potencialidades dos instrumentos de acordo com o público especial que nos visita.
Sempre que faço o Caça Texturas numa cidade, procuro saber mais sobre a sua história, ruas e detalhes esquecidos pelos passos apressados. Desta vez a caçada às texturas teve lugar em Águeda (2 e 4 de Maio). Bem sei que a parte divertida é andar pelas ruas de mina de grafite e lápis de cera na mão capturando em papel as diferentes texturas urbanas (ou naturais); mas as conversas com os “informantes” locais, que antecedem a intervenção, são muito interessantes pois convocam-nos para cenários quase cinematográficos de momentos que ficaram para lá, no passado.
Imaginemos as velas brancas dos mercantéis (barcos de Aveiro destinados ao comércio) chegando ao cais das laranjeiras na frente ribeirinha da Águeda de outrora. Trazem peixe da costa e os romeiros que vêm para a festa de S. Geraldo. Seguirão depois, um pouco mais acima do cais do botaréu, em pequenas bateiras rio acima em direção ao Souto do Rio e daí para a capela. Vêm dançando animados, alguns procurando namoro ou desejosos de curar os cravos das mãos por milagre do santo. Trazem flores, cravos dispostos em tamancos e a eles se juntam os habitantes da vila. Pela margem seguem mulheres levando farnéis e instrumentos musicais á cabeça, como se equilibrassem balaios…Adivinha-se baile e merenda no final da romaria. E assim é, à sombra dos castanheiros, depois da devoção e antes se seguir pelas águas a jusante…
Alguns detalhes da cidade piscam-nos o olho mas escondem a história que se encontra por detrás…O que se terá passado às 5h05?
Agora rumo a sul, a Montemor-o-Novo, para um encontro em torno da poesia, com jovens do secundário, promovido pelo Espaço do Tempo (7 de Maio). Começo por Cesário Verde passo para Fernando Pessoa, sebastião da Gama, Gedeão, Alexandre O’ Neill. Termino com o poema “Asas” de José Fanha…estão todos em silêncio, são estudantes da via profissionalizante, pouco habituados a leituras.
No dia 8 de Maio fui à escola da Abrigada cumprir a promessa que fiz aos alunos Pief com quem trabalhei em dupla com a Ana Margarida Nunes no âmbito do projeto 10x10 (Descobrir/Gulbenkian). Foi encontro de despedida duro, os jovens estavam instáveis e custou muito a aquieta-los. De repente desesperei por dentro: “Será que serviu para alguma coisa a nossa intervenção?”. Depois fiquei um pouco mais tranquilo ao conseguir a escuta para o conto e para as brincadeiras… Mas saí magoado e interrogativo. Existe um tempo para transformar uma pulsão negativa numa resposta positiva, em direção ao futuro. É isso que faço todos os dias, acreditar.
Depois, como todos os passos vão dar aos Caminhos de Leitura (10 e 11 de Maio), lá fui para Pombal. A Sónia Gameiro desafiou-nos (a mim e ao Paulo Condessa) para fazermos uma brincadeira que conduzisse os participantes no encontro de literatura para a infância da biblioteca até à mata onde se desenvolviam as apresentações e um bom número de comunicações, entre árvores e personagens saídos de um conto de fadas. Vestiram-nos, maquiaram-nos e assim nasceu o senhor Beringela (Paulo Condessa) e o senhor Curgete (eu) que ao sabor de quadrinhas populares foram subindo ladeira acima com toda a gente atrás. Foi a primeira vez que me pintaram de dourado. Bom…do resto irei falando.
 

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