É assim a "Leitura Furiosa"...
Ostra (com pérola faz de conta dentro) usada no início da sessão como metáfora da riqueza interior ocultada
ou ideia de isolamento, não comunicação, impedindo o outro de ter acesso ao nosso lado precioso.
Lembro-me que a
determinada altura da nossa conversa, na salinha da Caritas com os meus
companheiros sem abrigo, surgiu uma conversa sobre cartas. Pois, agora ninguém
escreve cartas, disseram. Mesmo escritas, seguem em correio azul, sem selo. Cada
vez que colamos um selo ou lacramos uma carta, parece que as palavras contidas
no interior se revestem de uma nobreza insuspeita. Têm mais força as palavras
de Amor escritas numa carta do que enviadas através de mensagem por telefone. Cristina
retira do saco dois ou três aerogramas vindos da época da guerra colonial,
alguns reconhecem o objeto. Falamos da leveza do papel com que eram feitas
aquelas missivas que as madrinhas de guerra se encarregavam de fazer chegar ao
coração da mata. Tenho medo destes papéis vindo do passado, podem reabrir as
chagas que em coletivo ainda não resolvemos. Mas a conversa salta
para os valores selados, os documentos legitimados pelas estampilhas fiscais,
assinadas por cima com caneta de tinta permanente. Uma carta de curso liceal
revestia-se com maior dignidade quando de colavam os selos, depois de
devidamente lambidos, na folha de papel almaço azul…Não me lembro do número de
linhas com que se cosiam requerimentos sobre estes suportes…
Como adorava
lacrar cartas com o sinete de prata da minha avó…sentia-me um rei lavrando
sentenças. Um dia, também eu recebi uma carta de uma mulher, lacrada a vermelho
com um beijo rubro desenhado a batom no seu interior…Nunca mais esqueci o
cheiro nem o momento que ficou para lá suspenso no meio da existência aquele
beijo lacrado…É assim a “leitura Furiosa”…
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