Leitura sem fronteiras nas prisões.
Chegou ao fim
mais um ciclo de sessões de “A cor das histórias”, mediação do livro e da leitura
em estabelecimentos prisionais, uma parceria entre a DGSP e a DGLB. Se este ano
o financiamento foi escasso, temo que para o ano simplesmente não exista. O
programa “leitura sem fronteiras” tem dado os seus frutos: fica aqui um abraço
para a Sara, Luísa, Sandra e Andante, meus companheiros de labuta. Quem nos conhece
sabe que somos de corpo inteiro cada vez que entramos pelo gradão.
Foram poucas as
sessões em Pinheiro da Cruz mas juntou-se um grupo de homens muito interessados
que aproveitaram todos os minutos da minha presença na prisão. No último dia,
solicitaram à adjunta da direção da cadeia a possibilidade de se constituírem numa
pequena comunidade de leitores dentro da prisão…gostei da ideia. Importante
numa prisão onde se sente mesmo o isolamento, a interioridade. Fui reencontrar
o Jorge Angélico (1º prémio do concurso de poesia dos estabelecimentos
prisionais) que continua a escrever muito bem. No último dia na prisão
alentejana um dos reclusos leu um poema autobiográfico fantástico, que
percorria a sua vida de drogas num ritmo alucinante, sincopado, muito para além
do hipop.
Apenas três dias…
em que trabalhámos poesia, prosa e falámos sobre a vida e o mundo. Um ponto a
favor de Pinheiro da Cruz é o livre acesso aos livros, pois existe uma pequena
biblioteca por ala com um responsável (“bibliotecário”); infelizmente o mesmo
não acontece no Montijo onde a biblioteca se encontra na zona escolar, longe da
área prisional, impossibilitando aos reclusos a requisição e manuseamento de
livros. “Só temos acesso aos livros quando o Miguel aqui vem” – Desabafou um
recluso. É fundamental corrigir esta falha. E olhem que estes amigos leem! No último dia levaram
Susana Tamaro, Oscar Wilde, Tintim, Miguel Esteves Cardoso, Nuno Markl, Alexandre O´Neill, Fernando
Pessoa, um livro de auto ajuda (não me lembro do autor) e António Aleixo, entre
outros. Escolhas muito variadas, leitores diferentes. Continuo a gostar de
fazer este trabalho.
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