Contos à deriva
Quando a
Cristina Taquelim me disse que tinha um lago inteiro para contar histórias do mar e dos pescadores, fiquei
feliz. Foram logo buscar o barco do Hermes Picamilho para servir de palco aos
meus “Contos à deriva”. A primeira vez que contei alguns ditos e partes do
barlavento algarvio em público, foi numa sessão de contos que antecedeu o
festival Terra Incógnita …. Eu bem queria um petromax para ter na embarcação, uma luz para os
contos, mas só encontrámos um “camping gas”; serviu muito bem para iluminar a
magia das histórias no jardim público de Beja, durante as Palavras Andarilhas.
A primeira noite de contos à deriva, até que foi muito atrapalhada; manter o
equilíbrio no barco enquanto se contam histórias para a margem, não foi tarefa
fácil. Mas o pessoal gostou, apesar de eu ter esforçado a voz. Valham-nos os
contadores de histórias experientes: o António Fontinha tratou de dar a sua
opinião e a “coisa” foi corrigida: uma pequena tripulação passaria a embarcar
para escutar histórias no meio da água…e funcionou mesmo bem… Naquela segunda
noite, os andarilhos fizeram fila junto á margem para escutar histórias, embarcados,
enquanto eu remava sobre as águas. A certa altura, o António começou a lançar
pequenas provocações, como se fosse um pescador que estranha ver tanta gente
numa embarcação de trabalho: lá se deu um diálogo em algarvio do mar com o
irónico provocador que da margem observava a cena toda. Naquelas duas noites
disse pragas, ditos e partes do barlavento algarvio. Não faltou a memória do “Lugre
fantasma” nem “as raposas e o pescador”, a par de umas quantas rimas salgadas
na noite alentejana…tão longe do laredo. O que eu me ri com a Fernanda Frazão
cheia de medo de ir à água… E os pais andarilhos que começaram a fingir que choravam,
copiosamente, quando eu disse que iria levar as suas crianças para o mar das
histórias, dos livros, que não mais voltariam iguais e que por certo, alguns se
perderiam no meio do vendaval de letras…
Foi assim: remando, pescando e contando como se estivéssemos a bordo do “Urso branco” nos arrifes do sul.
Foi assim: remando, pescando e contando como se estivéssemos a bordo do “Urso branco” nos arrifes do sul.
O barco chamou-me a atenção, logo no 1º dia de manhã, muito antes de perceber por que estava ele lá! Depois, assisti à partida de diversos grupos de tripulantes, despedidas com esperanças e receios, e regressos felizes... Chegavam diferentes, claro! Uma ideia interessantíssima!
ResponderEliminarObrigado Manuela. Fiquei com vontade de repetir esta experiência. Como passageiro/pescador, voltei a escutar histórias ao senhor António ("Urso branco")na segunda feira passada: fui à pesca no mar da Arrifana...
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