Dia Mundial da Doença Mental no Museu Gulbenkian

Dia Mundial da Doença Mental
Museu Gulbenkian
Centro Hospitalar Médio Tejo

Ontem, no Museu Gulbenkian, realizámos duas visitas com utentes do Centro Hospitalar do Médio Tejo (Tomar) associando-nos, assim, às comemorações do Dia Mundial da Doença Mental. A impulsionadora desta iniciativa foi a enfermeira Paula Carvalho, já nossa conhecida. Miguel Horta, Margarida Vieira e Rita Ruiz foram os Mediadores de serviço, conduzindo e interagindo com os visitantes pelas salas do Museu; uma resposta específica pensada para as pessoas com doença mental, com longa tradição no setor das necessidades educativas específicas dos museus da Fundação Gulbenkian. Rita Ruiz convidou os visitantes a "irem" (visita "IR -Interpertar e relacionar") e  a dupla testemunhou um "naufrágio" (visita "A tempestade").


De novo, foi dia de “tempestade” no Museu. Com a minha colega Margarida Vieira propusemos um “mergulho” na obra de William Turner, em particular no “Naufrágio de um cargueiro”. Como introdução começámos por apresentar uma outra pintura, em frente à grande peça do naufrágio, “Quillebuef - foz do Sena", convocando as memórias dos participantes. “Quem já assistiu a uma tempestade?”. Margarida Vieira interpelou o grupo, trabalhando em torno dos sentidos, “desmontando” as peças da composição (em que o Mestre era especialista) o que ajudou cada um dos convidados a construir uma imagem interior, mais completa, da obra de arte. Feito este aquecimento passámos para o “Naufrágio de um cargueiro” dando seguimento à descoberta da expressão dos elementos presentes na tela: o movimentos das águas com a sua rebentação envolvente e circular, um vento que assola a tela varrendo a parte superior da peça, uma luz de fim de tarde (opinião dos visitantes) que ilumina o centro da peça, atraindo o nosso olhar, como bem observou outra participante. Uma série de perguntas fez com que o olhar dos visitantes fosse cada vez mais preciso, identificando elementos menos visíveis da peça: roda do lema, arca, gaivota, homem que acena desesperado. Alguém exclama na sala : “ouvem-se os gritos aflitos!”

Fonte: Museu Gulbenkian número de inventário 260


Depois seguiu-se a expressão do sentido. Entreguei a cada um uma folha grande de cartolina e desafiei o grupo a fazer o som da tempestade abanando energicamente as folhas – o resultado sonoro foi muito engraçado. Então, cada um escolheu o seu lugar no chão para desenhar, longitudinalmente às obras expostas, para permitir a passagem, sem problema, de outros visitantes do museu.. Nas folhas de papel surgiram riscas as grandes vagas do quadro, o vento que despedaça as velas e cabos e a chuva que não pára. No fim entreguei um círculo recortado em papel, que poderia ser uma lua ou um sol e desafiei-os a introduzir este novo elemento nos desenhos ou criar uma nova situação no verso da folha de cartolina. Esta proposta, um pouco disruptiva, fez com que o mar se acalmasse ou o sol brilhasse, encerrando a nossa visita oficina à obra de Turner.

Ao longo da parte oficinal é muito engraçado escutar o som da grafite conversando sobre o papel. Deixo aqui um pequeno registo do momento em que os nossos amigos registaram sobre as folhas a grande bátega que se abateu sobre a embarcação..

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