Auxiliares de Infância e Mediação Leitora

Auxiliar de Educação mediando o livro 
"Oficinas improváveis" - Torres Vedras

Forte da Casa, Julho 2021

Auxiliares de Infância e Mediação Leitora

Ana, aluna do curso Profissional de Técnico de Apoio à Infância da Secundária do Forte da Casa, escolheu como tema para a sua Prova de Aptidão Profissional “A promoção do livro e da leitura na faixa etária dos 4 aos 6 anos, do ponto de vista do Auxiliar de infância”. Bem arrojado... Gerou, rapidamente, uma catadupa de reflexões sobre o tema e o ponto de vista.

Ana pertence a uma turma do 12ºano que acompanhamos há 3 anos no Projeto Ler+ 14/20 Forte da Casa (PNL2027). Faz parte de um trabalho alargado de docentes e mediadores da Laredo Associação Cultural que envolve diretamente 3 turmas, com reflexos noutros alunos e em professores de diversas áreas. Uma parceria do Agrupamento de Escolas do Forte da Casa com a Laredo e o Município de Vila Franca de Xira - Casa da Juventude do Forte da Casa e Biblioteca Municipal da Quinta da Piedade – com o acompanhamento da Rede de Bibliotecas Escolares, num projeto a decorrer entre 2018 e 2020, apoiado pelo Plano Nacional de Leitura (PNL2027 Movimento 14/20 Ler+).

Mas que posso dizer a uma futura Auxiliar de Infância?

A condição profissional

Logo à partida é importante refletir sobre o estatuto destes profissionais, designados como assistentes operacionais por conveniência datutela e imposição de legislação de 2008, mas cuja atividade transcende largamente o limite de tais palavras. Com a extinção da categoria profissional de Auxiliar de Educação, acentuou-se a tendência para o esvaziamento pedagógico das funções, sendo esquecida a necessidade de formação, quer no momento do recrutamento quer ao longo da carreira, destes profissionais, maioritariamente mulheres, agora dependentes da gestão autárquica. Poderemos mencionar aqui o valor da presença de auxiliares, prestando serviços de qualidade, por exemplo, em Bibliotecas Escolares – catalogando, apoiando em geral as atividades e assegurando o balcão ativo - , em Equipamentos desportivos e de lazer, ou na área da Educação Inclusiva (possuindo um conhecimento especializado por exigência das funções). Muitas vezes são o garante da continuidade, dada a volatilidade na colocação dos docentes. O seu lugar na relação das famílias com a escola é importante, fazendo o acolhimento das crianças e cuidando delas ao longo do seu dia escolar; este papel é bastante significativo na educação inclusiva onde se tornam adultos de referência, abrindo um campo de possibilidades para a tarefa educativa. Sublinhamos, assim, a importância de se apostar na valorização profissional dos Auxiliares, sabendo que esta capacitação terá reflexos no futuro, contribuindo para uma escola mais humana e maior qualidade educativa, nomeadamente na área da leitura, da escrita e da literacia. Um profissional da infância que lê, e lê bem, apresenta melhor o mundo aos meninos e às meninas do Jardim de infância.

Mediando o livro com aluno da Educação Inclusiva
"Alto Minho a Ler" - CIM Alto Minho/Laredo

Emerge um leitor...

A educação não é tarefa exclusiva dos docentes. O Auxiliar de Educação de Infância pode e deve seduzir para a leitura, adotando uma postura ativa e atenta em todo o processo educativo. Pode trabalhar o livro, pode contar histórias em qualquer lugar da escola, colaborando de modo precioso com os docentes. Ao estabelecer uma relação justa e serena com a criança, estará a criar um vínculo significativo, fértil em aprendizagens e afetos, abrindo campo para o livro. Quando existe um espaço de relação entre Educador de Infância e Assistente (ou Auxiliar), dá-se a partilha natural de objetivos de trabalho e metodologias. Educador de infância e Auxiliar podem formar um tandem, gerando dinâmica, descobertas e alegria educativa. Nestas condições ideais, a Mediação Leitora tem lugar intuitivamente; flui da comunicação com a criança para o livro e regressa ao aluno com novas palavras, sentidos e algumas interrogações. O conto, as dramatizações, a leitura expressiva (em voz alta), o trabalho com livros de imagem (álbuns), o contacto com o ambiente digital, o cinema e outros recursos presentes na Biblioteca Escolar, contribuem para o nascimento de um leitor. A biblioteca escolar e/ou o cantinho de leitura da sala do jardim de infância são parceiros fundamentais neste trabalho com os Leitores Emergentes - a casa dos livros deverá ser um lugar de magia contagiante. O labor em torno da Competência da Palavra prepara futuros leitores. Quando o/a educador/a ou o/a auxiliar trabalham a linguagem com as crianças, aumentando o vocabulário, promovendo a articulação correta das palavras (aprofundando níveis linguísticos), estão a criar condições para a leitura; mais ainda, se estabelecerem pontes entre a oralidade e a escrita. Quando uma criança repete e pede para repetir uma história, ela está a gerar autoconfiança e a criar a Antecipação Leitora, capacidade que vai sendo desenvolvida ao longo da sua vida de leitor e ouvinte de histórias. A criança antecipa um significado para os sinais escritos e confere se as suas ideias estão certas a partir daqueles que lhe são familiares. No Pré-escolar, já descobriram os símbolos pictográficos, começam a entender bem os grafismos do alfabeto, estão aptas para começar uma atividade leitora – o Auxiliar está lá, no meio deste processo, e pode facilitar e promover descobertas, apresentando novos livros. Tudo isto deverá ser feito de forma natural e informal, deixando que as crianças construam os seus próprios atalhos para o conhecimento.


Relativamente à linguagem escrita, verifica-se uma evolução grande, não só na maneira de representar, como na vontade de aprender as letras. Nesta fase do desenvolvimento dos Pré-Leitores, nota-se a influência de um ambiente familiar favorável. Alguns pais consideram que a estimulação da leitura é tarefa da escola e não deles, desconhecendo o seu papel determinante, muito antes da fase de aprendizagem escolar. É fundamental trazer os pais para a leitura – um Pai que lê (nem que seja o jornal) ou valoriza a existência de livros, estará a criar um filho leitor. As Mães devem ter consciência do significado profundo da expressão Língua Materna – elas são fundamentais na construção linguística e no estabelecimento de um padrão base de comunicação. No seu contacto com os pais o/a Auxiliar pode contribuir para uma mudança de atitude e fomentar a utilização do livro e dos contos no seio da família. 
Quando os alunos chegam ao 1º ciclo, facilmente percebemos se tiveram um jardim de infância leitor; sentimos que levam consigo uma preparação que lhes facilita a aquisição de competências de leitura. Uma atenção especial deve ser dada aos alunos de meios socioculturais pobres e, ou, iletrados, que raramente contactam com o livro. Deverá ser adotada uma estratégia específica no trabalho com a diversidade funcional (Ensino Inclusivo).

"Oficinas improváveis" 
 Tudo se faz, e bem, se houver quem o faça, e bem. E   nunca é obra de uma pessoa só, resulta sempre de     trabalho em equipa. É importante que exista uma equipa   coesa, fruto de uma relação justa e equilibrada entre   docentes e auxiliares de educação, combinando entre si   estratégias e objetivos comuns de mediação leitora   num  Processo ColaborativoHoje, todo o "profissional   de educação", no caso particular, o/a Educador/a de   Infância e o/a Auxiliar de Educação de Infância, deve dar   importância ao ato de ler, porque a leitura permite a   construção de sentidos que vão muito para além do   domínio linguístico; as competências de leitura e escrita   são estruturantes de outras aprendizagens, são   determinantes no conhecimento que se adquire sobre o   mundo e contribuem para formar pessoas autónomas e   interventivas.



Miguel Horta

Maria José Vitorino (colaboração)


#ler+1420forte  #pnl2027movimento14/20  #agrupamentodeescolasfortedacasa #laredoassociaçãocultural2021  #bibliotecas

Comentários

Mensagens populares