Na Biblioteca de Pombal com meninos e meninas ciganas...e muitos livros
O trabalho com as crianças ciganas de Pombal continua. Esta segunda-feira
continuei a trabalhar a concentração com alguns jogos de movimento,
coordenação; depois, um exercício de voz e harmonias… não tiveram dificuldade
nenhuma, claro. Já o trabalho em torno da escuta foi mais agreste. Trata-se de
uma cultura muito afirmativa, onde todos os papeis sociais na comunidade são
defendidos perentoriamente, com expressão e falando alto. Fala-se alto para que
todos escutem o que estamos a dizer e haja, por isso, testemunhas. Falar alto
por se ter conquistado o direito à opinião, passando da infância diretamente (quase)
para o estado adulto. As crianças aprendem desde muito cedo a interromper as
conversas dos pares, afirmando-se. Falar, desregradamente, fora de contexto e
alto, tem ainda o sentido de todos saberem que estamos a gostar e a participar socialmente.
Este ruído constante não dá jeito nenhum quando se trata de um espetáculo ou
sessão de mediação: ninguém presta atenção. Obriga o mediador a ser expressivo,
surpreender o grupo, captando a atenção. Mesmo assim, consegui realizar a
oficina “Dos sons nascem histórias” e aquele grupo misto de jovens e crianças
acabou por inventar algumas narrativas (escritas ou em desenho) surgidas pela
escuta dos trechos sonoros que lhes apresentei. Ainda tivemos tempo para
repegar “o livro com um buraco” (Hervé Tullet), começando a colorir a
fotografia obtida, ponto de partida para um pequeno trabalho autobiográfico.
Acabei por fazer, também, alguns desenhos com buraco para experimentarmos como
ficava… Aproveito para agradecer a presença da animadora cultural Marli Silva
que me tem ajudado nesta intervenção.~
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