Biblioteca Municipal de Pombal: Refletindo sobre o trabalho com crianças ciganas


Decorreu na segunda-feira, na biblioteca municipal de Pombal, a última oficina deste verão, com as crianças ciganas da cidade. Havia muita eletricidade no ar, com as festas da cidade, época de muito trabalho para os pais desta comunidade. Foi, talvez, a oficina mais difícil, com a pior escuta, até agora. Em determinada altura perdi a mão do grupo. Agora procuro entender o que se passou. Levado pelo excesso de confiança pelo sucesso das sessões anteriores, não preparei um "Plano B" para o caso de eles estarem mais frenéticos... Também o nosso mediador cigano não soube gerir os meninos, muito por ter pouca consciência da natureza do trabalho em educação artística e mediação leitora que estava a ser desenvolvido naquele momento. Não tem mal, mas confirma a necessidade de formação intensa nas áreas artísticas, mediação leitora e da dinâmica de grupos. É preciso seduzir estes mediadores ciganos para a leitura e para as expressões, antes de os lançar no terreno, para trabalho com os seus pares mais novos. A grande maioria destes jovens pouco contacto teve com o livro infanto juvenil, tendo pouco convívio com outros produtos culturais. Sem um domínio básico das metodologias de educação não formal, difícil será gerir um grupo para além do habitual berro e puxão de orelhas que testemunhei dentro da biblioteca. Também, os técnicos responsáveis pela sala de leitura infantil não ganham nada com a comunicação em ralhete e aos berros devendo aprofundar conhecimento sobre o trabalho com esta comunidade, estabelecendo uma relação justa com estes utilizadores. Ainda outro dado fundamental – a constituição dos grupos. Deveria ter refletido sobre o assunto, mas quando cheguei, já os grupos estavam constituídos, com diversidade etária num rácio demasiado elevado para a natureza do trabalho que queríamos desenvolver, onde a escuta, a serenidade e a cooperação, são mote para o início das sessões. No lançamento de um trabalho com crianças ciganas é recomendável que a intervenção seja feira por dois profissionais da mediação cultural, preparada anteriormente em tandem, com os olhos postos na continuidade. Só promovemos o empréstimo domiciliário, criando leitores assíduos, com projectos em continuidade dotados de uma visão mais lata, que permita sair das quatro paredes das bibliotecas indo ao encontro das crianças e suas famílias, diretamente nos bairros de origem. O verão vai servir para aprofundar a reflexão. Um abraço forte para a Ana Maria Cabral que me lançou o desafio e para a Marli Silva que me tem coadjuvado – obrigado.

Uma metodologia simples para trabalhar adjetivos 
("Filactera, meu Amor" - direitos reservados Miguel Horta)
De qualquer forma, a sessão de 24 de Julho correu bem ao nível de alguns objetivos pensados. Começámos com uma dinâmica de concentração e palavra, baseada nos nomes das aves e no vendedor de passarinhos (Passarinheiro – jogo de roda) que dantes havia nas nossas feiras. As crianças sabiam o nome de imensos pássaros, muito mais que os meninos das grandes cidades… Para que se concentrassem no nome da ave escolhida e nas regras do jogo, dei a cada participante um tsuru, à medida que iam acertando na palavra. Depois partimos para a leitura de um álbum de imagens sobre um passarinho na gaiola (“Tom y el pássaro” – Patrick Lenz). Depois a sessão descambou e não consegui chegar a Jacques Prévert (“Como fazer o retrato de um pássaro). Passado o momento de dispersão e ruído voltámos ao trabalho, terminando os desenhos a propósito do “livro com um buraco”. A sessão terminou com um pequeno jogo de “adivinha o adjetivo” partindo dos “emoticons”.
A partir do "livro com um buraco" de Hervé Tullet.
Desenho sobre fotocopia a preto e branco, de fotografia.

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