Andarilhar, sempre!
Contos para escutadores especiais...
Regresso à costa depois das Palavras Andarilhas; corre um
vento norte rijo, bem diferente da canícula de Beja. É sempre bom voltar a
encontrar os companheiros de trabalho e outros trabalhadores da palavra. Já
estabeleci laços fortes e cumplicidades com a equipa da Biblioteca Municipal de
Beja. São inúmeras as ideias lançadas a partir daquele lugar de leitura. O Projeto
Columbina é uma dessas propostas que vêm fazendo o seu caminho pelo país – não é Nelson Batista? Como já vos tinha dito, nesta edição das “Andarilhas” partilhei a minha
experiência de trabalho (em crescendo) de mediação leitora e
narração oral junto das necessidades educativas especiais. Um trabalho mais
discreto, longe dos grandes espaços de narração. No sábado contei no auditório
da Biblioteca Municipal com a comunidade terapêutica e comunidade de reinserção
da Caritas de Beja e mais alguns andarilhos curiosos que foram ao cheiro dos contos... O início da sessão não foi fácil, mas quando começaram a
rir com as “partes” do Algarve, comecei a serenar. A sessão terminou com um
ex-recluso que nos presenteou com um belo poema – Bom trabalho Cáritas! Mais
tarde fui ao Lar da CerciBeja contar e mediar alguns livros com um grupo variado
(nas problemáticas presentes) e muito afetuoso. (na parede da CerciBeja está escrito em grandes letras: "Vidas coloridas!") Como estava um calor terrível
comecei com um conjunto de “brincadeiras intertextuais” em torno da ideia de
vento. Um cartão grande simulou uma ventania refrescando os ouvintes, depois um
livro de imagens sobre o vento e um poema de António Torrado. Canções, histórias
bem-dispostas com objetos bem visíveis e simbólicos que se podem tocar. Apesar
do calor, divertimo-nos todos!
Os escutadores da CerciBeja
Comunicando no Centro de Paralisia Cerebral de Beja
usando as luzinhas do SIM, NÃO e TALVEZ
No dia seguinte, no Centro de Paralisia Cerebral,
também brinquei com o vento (cheguei a sussurrar ventanias e poemas aos ouvidos
do pessoal) e sabem uma coisa? A rapariga da história “Caganita”, a tal que ia
casar com o príncipe, entrou na igreja de cadeira de rodas. Ao longo deste
percurso pelas Andarilhas tive sempre o apoio do Nelson Batista e da Susana
Gomes que foi providencial na moderação do debate que teve lugar na Casa do
Contador no final da tarde de domingo: “Para uma mediação diferente?”. A sala
estava à cunha, com um bom número de profissionais da área das necessidades
educativas especiais e mediadores da leitura. Foi uma conversa animada em torno
das características especiais da mediação leitora junto das NEE. Falámos da
escolha de livros e objetos de mediação de acordo com as características dos
ouvintes. No caso do livro a Onda de Suzy Lee, falei das diferentes questões
que podem ser trabalhadas com aquele livro, exemplificando. Igualmente como exemplo,
mediei o livro Zoom (Istvan Banyai) junto dos participantes. Salientámos a
importância do corpo como primeira ferramenta de mediação: do toque ao contacto
visual, passando movimentação pela sala e outras interações com estes
escutadores especiais. Ressaltou deste encontro a crescente necessidade de
formação nesta área de trabalho e ficou uma pergunta no ar: Como posso
preparar melhor a minha biblioteca para receber leitores especiais?
Foto - Cortesia da Radiomiudos
Um dos momentos mais engraçados das "Andarilhas" foi a
entrevista que um menino crioulo me fez para a Radiomiudos (um projeto muito bonito). As perguntas e as
respostas foram em crioulo e contei em direto a histórias dos “Purkihus”("Katxupa").
Obrigado Pedro Barros! Nhas mantenha! Também por lá estava outro crioulo, Adriano Reis, homenageando muito bem o Mestre Lalaxu (Horácio Santos) - a seu pedido ainda contei "Na posu bedju" em crioulo e português (uma história tradicional pequenina sobre "almas penadas")...espero que tenham gostado.
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