“A importância do brinquedo e do brincar para o desenvolvimento da criança" - Penalva do Castelo
A caixa do lixo |
No dia 7 de Julho estive em Penalva do Castelo na sua
Biblioteca Municipal num seminário sobre “A importância do brinquedo e dobrincar para o desenvolvimento da criança”, respondendo ao desafio lançado pela
minha amiga Joana Pina. A sala estava cheia, com algumas caras conhecidas, lá
estavam o Pitum e a Lira Amaral – o tema é muito importante! Gostei bastante de
escutar a professora Marta Rosa (IAC) na sua reflexão acutilante e muito
organizada. Fiquei fascinado com o trabalho de adaptação dos brinquedos para
crianças com paralisia cerebral, apresentado por Fátima Vilaço e Elisabete
Pereira da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra – ficou a vontade de me
encontrar com estas duas técnicas para aprender mais um pouco sobre a técnica,
com vista a uma possível adaptação ao campo da educação artística. A minha
intervenção incidiu mais sobre a criação de estratégias lúdicas junto de
crianças e jovens com necessidades educativas especiais. Antes de chegar à
narrativa da prática em educação artística e mediação leitora junto da
diferença, falei um pouco sobre o brincar. Discorrendo em jeito de memória: O primeiro brinquedo é o corpo – Um mamilo ou talvez a luz
contra a transparência da pele. Brincar e comunicação fundidos num só gesto,
repetido docemente enquanto se cresce. Outros primeiros brinquedos vão surgindo
com diferente funções de estímulo sensorial – são rocas, na extremidade dos
membros, seguras pelas mãos, que já serviram de brinquedo. O bebé tem à sua
disposição uma miríade de brinquedos mediadores da perceção com o mundo. Alguns
brinquedos tornam-se objetos transicionais, por serem contentores familiares de
afeto, garantindo noites tranquilas. Por vezes os objetos transicionais são
batizados (o Chico, o Ninon, o Nhônhô…), passam a fazer parte da família, mas
têm uma função diferente na brincadeira. O tempo passa e aprende-se a usar o
brinquedo, a brincadeira ganha sentido. E de repente o brinquedo é convocado
para a grande dramatização do conhecimento que a criança vem construindo sobre o
mundo: a interiorização das aprendizagens promovida pelo jogo
simbólico, o faz-de-conta. Os brinquedos-atores são variados: os legos, as bonecas, até
pedaços de madeira e cerâmicas toscas representando a família, dependendo da
cultura de origem. Em 1980 fiz um percurso no interior da ilha de Santiago para
conhecer a cerâmica cabo-verdiana. Quando cheguei a Fonte de Lima, entendi que
para além do binde (bilhas tradicionais) existia uma grande quantidade de
pequenos bonecos que tinham uma função específica: eram brinquedos que as
raparigas adolescentes faziam em barro para os seus irmãos mais novos; na altura da cozedura da cerâmica adulta, elas aproveitavam a boleia para fazer
essas preciosidades. Não havia Barbies, nem Playmobil, nem o maravilhoso Lego.
A minha preocupação tem sido mais com o brincar e com o
brincador, esse mediador de sorrisos que tanto pode ser uma criança como um
adulto ou jovem que se disponha a semear risadas participando no divertimento.
Acho que a brincadeira ajuda a arrumar a cabeça – e isto é tão verdade junto de
pessoas com necessidades educativas especiais. Ao longo da minha intervenção
fui sugerindo a utilização de objetos comuns em brincadeiras com sucesso garantido,
como as lanterninhas, os sussurradores, fui referindo o recurso a meios pobres na
construção plástica e até de brinquedos (tenho um amigo que é carpinteiro) mostrei uma imagem da minha caixa de lixo que uso para trabalhar o
corpo, a par de alguns exercícios de psicomotricidade… Enfim, ficou muito por
dizer… Quero agradecer à organização pela oportunidade de participar numa sessão tão concorrida e viva. Como se diz na Beira: Bem-Haja
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