Apresentar um livro em boa companhia...


Rui Grácio e Mário Ruivo
 Finalmente apresentei o meu livro! Quero agradecer a todos que estiveram presentes, família e amigos; foi um belo fim de tarde na Fundação José Saramago. Obrigado Sérgio Letria e Pilar del Río pela disponibilização do espaço e envolvimento ativo na divulgação da obra. Obrigado Professor Mário Ruivo pelo magnífico momento que desfrutámos escutando as suas histórias e apelo oceânico. Quanto ao meu primo José Filipe Mira Nunes, a conversa continua no próxima jornada de pesca a bordo do “Urso Branco”.
Deixo-vos as palavras do meu amigo e editor Rui Grácio. Obrigado a todos!
E houve espaço para um fadinho do Algarve...
Foi no ano já algo distante de 2006 que tive o prazer de publicar o primeiro livro de Miguel Horta, intitulado Pinok e Baleote. O tema dos oceanos, das criaturas marinhas, dos pescadores, dos laços comunitários, bem como o segredo entre um menino e uma baleia, no caso particular dessa obra, servia como pano de fundo para o desenrolar de uma história passada em Cabo Verde. Já nesse livro, em que Miguel Horta juntava ao seu trabalho de escrita um belo e peculiar trabalho de ilustração, se percebia a sua incontornável paixão pela escrita, pela leitura e pela intervenção social através mediação cultural. Aliás, essa sua vocação não data da altura dessa publicação. Remonta antes a um percurso nómada de partilha de contos, histórias e experiências com muitos anos, percurso que se tem prolongado, intensificado, aprimorado e diversificado. Quem consultar hoje o blog de Miguel Horta, Laredo, pode constatar a diversidade de ofertas que aí encontramos. Essas ofertas refletem não só a fidelidade a um estilo muito próprio — que poderia caracterizar como de proximidade às pessoas enquanto pessoas, capaz de despertar o imaginário, a criatividade e a reflexão (eis o essencial do verdadeiro trabalho de mediação cultural) — como mostram os frutos de um caminho de autodidata que se tem consolidado em propostas bem estruturadas, inovadoras e originais. Pense-se, por exemplo, nos diferentes projetos em curso — nomeadamente "Leituras em cadeia" ou "Miríade de histórias", nas diferentes oficinas que promove e oferece, seja para públicos com necessidades educativas especiais ou não, e consultem-se os vários projetos especiais que vai elaborando. Miguel Horta é um artista multifacetado que tem sempre dúvidas relativamente ao seu trabalho, o que é uma virtude. Lembro-me das suas hesitações quando me pôs à consideração a edição do seu segundo livro, Dacoli e Dacolá, também ele escrito e ilustrado por ele e editado em 2008.  Hoje, este livro já vai na segunda edição e tem feito um interessante e fecundo caminho. É um livro com histórias profundamente originais e sugestivas e com um potencial de exploração imenso no sentido da descoberta e da interrogação sobre vivências que nos são próximas. Penso que o retorno da experiência, no terreno, que o Miguel teve destes dois livros foi gerando confiança e motivação acrescida para a escrita e ilustração do livro que hoje aqui nos reúne, Rimas Salgadas. Nele, o tema dos oceanos e do ecossistema marítimo está de volta. Marcado por belas e cativantes ilustrações, as narrativas descem ao fundo do mar salgado com histórias contadas em rima. Usando uma construção textual caracterizada simultaneamente pela capacidade de contar de uma forma simples, intensa, dinâmica e bem-humorada, os diferentes textos levam-nos para as profundezas onde se passam coisas que geralmente não imaginamos e onde existem criaturas sobre as quais raramente pensamos. O toque realista, «científico» e artístico das ilustrações cria uma envolvência que potencia o nosso acesso a esse mundo e, do ponto de vista infanto-juvenil, que é o público-alvo deste livro, ele convida os mais jovens ao mergulho numa natureza que, com o crescente artificialismo dos nossos dias, parece hoje cada vez mais afastada das suas formações.
Não irei falar do conteúdo das diversas histórias contadas em rima, mas quero finalizar sublinhando o meu contentamento, enquanto editor, pela publicação desta obra, quer enquanto produto final (é um bonito livro), quer enquanto livro original e com originalidades (veja-se, por exemplo, a lista dos animais que aparece no final do livro e a preocupação em colocar a sua designação científica). Utilizarei ainda as palavras do autor que retirei numa notícia do jornal Público de dia 30 de Maio, onde ele afirma: "achei que seria possível fazer um livro em que as ilustrações se aproximassem da realidade sem a frieza da ilustração científica. É possível escrever de uma forma simples sobre a biologia. Alguns poemas são cantáveis, outros convocam ritmos urbanos, testemunho de mediação leitora que venho fazendo nos mais diversos contextos". Será que já ouviram o samba do peixe-aranha?

Enfim, estou certo de que, tal como os precedentes, este livro fará um caminho cheio de possibilidades e tornará ainda mais vasto o lote de recursos do trabalho ímpar de mediação cultural que devemos a Miguel Horta e mais rico o espólio dos livros infanto-juvenil de autores portugueses. Por isso, obrigado por mais esta partilha.


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