Há domingos assim...
Fala-me de ti. Diz-me como és e como te sentes neste país
agonizante numa letargia sem resposta. Apetece-me perguntar isto mesmo aos
jovens, para quem redijo projetos de intervenção. Se calhar estou redondamente
enganado… Olha, já viste como se beijam e sorriem? Iguais a mim, naquela idade,
também estouvados e desproporcionados na expressão ou no silêncio. Mas sempre
secretos, exclusivos e incomparáveis – respeito isso. Boa parte, maus alunos,
como eu fui. Só me assusto quando lhes vejo os excessos, em fuga. Cilindrados
pelo álcool e pela insegurança escrevem histórias de vida que não escolheram.
Se fosse mágico inventava futuros… Mas tenho
sempre a vocação de espelho para melhor refletir as suas imagens quando comigo
se cruzam. Limpo o espelho todas as manhãs com o lenço da disponibilidade. Aproveito
e limpo os óculos, também: para que veja melhor através da opacidade dos dias.
E fico ali, deixo que me observem (como dizia João dos Santos). E observo,
também, o tempo que for preciso. Quantas vezes não falhei por excesso de
confiança, tão adolescente? Concluo que somos parecidos. A tarefa é sempre a
mesma: encontrar as respostas com o outro e não para o outro. Guardo sempre uma
frase dita por uma mulher que muito amei: “Quero-te para ti!” Parece que a
função de mediador é mesmo preparar terrenos e devolver o papel principal aos jovens
protagonistas. Deixar crescer, deixar partir. No outro dia, frontalmente, uma
rapariga disse-me na cara: “Não confio em ninguém que tenha mais de 30 anos.”
Fiquei a pensar que lhe vai ser muito difícil olhar-se através do tempo a
percorrer. Mas pensei-o de forma triste.
...obrigada pela escrita refletida. obrigada pelo sempre presente lado do outro no espelho presente.
ResponderEliminarSara
Às vezes sai assim, Sara. Os mediadores também têm inseguranças. É importante parar, pensar, antes de propor... E nunca temos a certeza do sucesso. Obrigado pelas palavras.
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