Os 97 anos de Maria Keil numa homenagem na Casa da Achada
A foto não é boa…tirada com um telemóvel, mas talvez dê a ideia de como eu tenho tentado focar a tua importância na minha vida. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão definitiva… Também tu, agora andas com a memória um pouco desfocada…e fico triste: tolhe-nos a comunicação frágil e eu não gosto disso…
A minha casa era lá no outro lado do Jardim da Casa da Moeda, da janela do meu quarto (que foi o meu primeiro ateliê e antigamente,também de António Pedro) via o vosso prédio. Era num tempo em que uma magnífica Magnólia florescia branca com o primeiro calor (a minha Mãe adorava aquela árvore) lá no canto da avenida António José de Almeida. Depois, era só descer apressadamente as escadas e percorrer aquele jardim até chegar ao teu prédio. Tudo numa velocidade jovem e sedenta. Era desta forma que galgava as escadas até à vossa casa, antigo ateliê de Francisco Keil do Amaral e teu…com quadros nas paredes: Ali, o Pitum com papeira, pintado a óleo, um lenço branco envolvendo o rosto da criança e um olhar perdido no sonho. Mais á frente o “ladrão de nabos” que o teu amigo Rogério Ribeiro não achou digno da tua retrospectiva em Almada…como eu discordo, está lá toda a tua irreverência. Sim! O mesmo despudor com que pegaste num lápis e retrataste o teu corpo gasto a partir da perspectiva dos teus olhos. Sempre o olhar da Pintora tentando arrumar o mundo dentro de si. Isto para não falar das paisagens que nascem a partir de “Roupa estendida no Bairro Alto”, à janela desse ateliê actual, bem próximo da casa de Agostinho da Silva. Mas não falemos desse bairro que me povoa as memórias… Nasci ilustrador no teu ateliê e amadureci o pintor que ainda está por se cumprir. Basta só isto para reconhecer a importância da tua presença; e tu negas: “Eu não ensinei nada a ninguém”. Respeito, fazendo figas atrás das costas…se é assim que queres: não me ensinaste nada que eu não quisesse aprender! Teimaste em voltar continuamente à minha vida, olhando sempre para mim como um criador. Penso que poisas o mesmo olhar sobre o nosso Pedro Morais, também ele frequentou o teu ateliê de ilustração (com Mimi e Colombo) e não pára de nos dar belos desenhos. Agora, vejo-te aqui, entre nós na Casa da Achada, uma amiga de Mário Dionísio, com os teus magníficos 97 anos e penso: este País ainda não te rendeu a homenagem devida. Mas nós, nesta tarde solarenga no coração de Lisboa, em que revisitámos a tua obra, beijamos-te, exactamente como as tuas ilustrações beijam os poemas de Matilde Rosa Araújo.
A minha casa era lá no outro lado do Jardim da Casa da Moeda, da janela do meu quarto (que foi o meu primeiro ateliê e antigamente,também de António Pedro) via o vosso prédio. Era num tempo em que uma magnífica Magnólia florescia branca com o primeiro calor (a minha Mãe adorava aquela árvore) lá no canto da avenida António José de Almeida. Depois, era só descer apressadamente as escadas e percorrer aquele jardim até chegar ao teu prédio. Tudo numa velocidade jovem e sedenta. Era desta forma que galgava as escadas até à vossa casa, antigo ateliê de Francisco Keil do Amaral e teu…com quadros nas paredes: Ali, o Pitum com papeira, pintado a óleo, um lenço branco envolvendo o rosto da criança e um olhar perdido no sonho. Mais á frente o “ladrão de nabos” que o teu amigo Rogério Ribeiro não achou digno da tua retrospectiva em Almada…como eu discordo, está lá toda a tua irreverência. Sim! O mesmo despudor com que pegaste num lápis e retrataste o teu corpo gasto a partir da perspectiva dos teus olhos. Sempre o olhar da Pintora tentando arrumar o mundo dentro de si. Isto para não falar das paisagens que nascem a partir de “Roupa estendida no Bairro Alto”, à janela desse ateliê actual, bem próximo da casa de Agostinho da Silva. Mas não falemos desse bairro que me povoa as memórias… Nasci ilustrador no teu ateliê e amadureci o pintor que ainda está por se cumprir. Basta só isto para reconhecer a importância da tua presença; e tu negas: “Eu não ensinei nada a ninguém”. Respeito, fazendo figas atrás das costas…se é assim que queres: não me ensinaste nada que eu não quisesse aprender! Teimaste em voltar continuamente à minha vida, olhando sempre para mim como um criador. Penso que poisas o mesmo olhar sobre o nosso Pedro Morais, também ele frequentou o teu ateliê de ilustração (com Mimi e Colombo) e não pára de nos dar belos desenhos. Agora, vejo-te aqui, entre nós na Casa da Achada, uma amiga de Mário Dionísio, com os teus magníficos 97 anos e penso: este País ainda não te rendeu a homenagem devida. Mas nós, nesta tarde solarenga no coração de Lisboa, em que revisitámos a tua obra, beijamos-te, exactamente como as tuas ilustrações beijam os poemas de Matilde Rosa Araújo.
Um abraço nortenho a Maria Keil, artista prodigiosa que muito admiro.
ResponderEliminarJá não fui a tempo de dar o seu abraço... Desculpe amigo.
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