Fundear : uma "maratona" de desenho que terminou no Museu de Vila do Bispo/Celeiro da História

 

Reconheço que foi uma grande maratona de pouco mais de mês e meio de desenho. Mas valeu a pena pelo resultado final num contexto completamente concordante com o universo do meu trabalho. Junto com o desenho, veio um sentimento inevitável, fruto de memórias de dias vividos junto de pessoas que me ensinaram a conhecer o laredo (território rochoso da beira-mar que engloba a zona entre marés) e todo o território envolvente. Assim, o desafio da curadora Ana Machado tornou-se irrecusável.

Na primeira visita ao Museu de Vila do Bispo/Celeiro da História deparei-me com um discurso museológico que encaixava naturalmente com o meu trabalho atual e com a minha história pessoal na Costa Vicentina. Nesse primeiro momento foi decisivo o contacto com Ricardo Soares, diretor do museu, coração de arqueólogo, numa comunicação direta e entendimento imediato. Naquele momento visualizei a instalação que gostaria de fazer no espaço museológico. A ideia seria integrar naturalmente a peça na narrativa expositiva.
A instalação seria composta por uma pedra de fundear poisada numa folha grossa de papel, com amarração vinda do teto do museu e um desenho a lápis de 220x280 que conta uma história de pedras num ambiente marinho. Feitos os primeiros esboços, mãos à obra e lá foi nascendo no ateliê da Azenha Velha a memória do imaginado. Enriquecendo a intervenção, soube que o artista Carlos Norton iria construir uma peça sonora sobre o desenho que, aos poucos ia surgindo. Partilhei imagens da peça, falei do plano de intenções do trabalho e surgiu uma beleza de um trecho sonoro que o público pode escutar confortavelmente (ponto de escuta com auscultadores) enquanto olha para o desenho.
"Fundear" - Lápis sobre papel - 220x280 - 2024
Fotografia de António Ventura

O dia da inauguração da instalação e festa do projeto “Chão Nosso” (Associação Cultural “O corvo e a raposa”) foi fantástico. Foi bom escutar “O coro da aldeia” que encheu o museu com as suas polifonias e desafiados pelo maestro, cantámos. A curadora Ana Machado falou do projeto e eu e Carlos Norton dissemos umas palavras. O Museu estava cheio. Soube estar com a família, sobretudo os primos de Monchique. No meio da assistência estava o Miguel Cheta e a família Ventura, incluindo a Avó Laura que me ofereceu um bordado reproduzindo um desenho meu. Foi uma bela tarde.

No encerramento do Projeto, estava previsto que orientasse uma oficina de desenho, mas o meu corpo traiu-me e tive de me recolher. A Susana Menezes e a Mara Taquelim orientaram a oficina que correu muito bem. Ricardo Soares fez uma visita guiada onde realçou os pontos de contacto e leitura entre a minha peça e o acervo do Museu. O Município de Vila do Bispo decidiu adquirir a minha peça – uma bela notícia!
Muito obrigado a todos pelo apoio e carinho. Parabéns, Ana Machado, pelo “Chão nosso”.
Obrigado Laredo Associação Cultural.


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