Libelinha de René Lalique - Museu Gulbenkian

Este é o segundo texto, num total de três, que aqui se publicam, referindo obras do Museu Gulbenkian, Coleção do Fundador, nasceram de um desafio que me foi lançado para criação de suporte escrito para áudio-guias. Agradeço este interessante desafio, apesar de ainda não se ter concretizado. Deu-me oportunidade de estudar, e de apresentar um ponto de vista vivo sobre a coleção, escrevendo interpelações a cada visitante. Aqui vos deixo esta pequena viagem pelos olhos de um pintor/mediador.


Peitoral – Libélula
René Lalique; (1860-1945); França; c. 1897-1898; Ouro, esmalte, crisópraso, calcedónia, pedras de lua e diamantes



Ao entrar na sala dedicada ao ourives francês René Lalique, notamos que a “Mulher-Libélula” ocupa um lugar de destaque. Foi apresentada com enorme sucesso na Exposição Universal de Paris de 1900, consagrando o artista como joalheiro de referência no estilo Arte Nova. O olhar percorre esta peça de ourivesaria, um peitoral, surpreendendo-se com a miríade de materiais que compõem este inseto híbrido. Materiais nobres ou raros convivem harmoniosamente ao lado de outros mais comuns, dando corpo a esta peça de asas abertas, onde o esmalte vitral brilha, enriquecido por diamantes finamente encastoados numa estrutura de ouro. O longo abdómen deste odonata é pontuado por pedras de lua sobre a base de esmalte e ouro. Duas grandes garras em ouro, para prender o peitoral aos generosos vestidos da época, sugerem poder á mulher que o usar. Do interior do corpo da libélula, surge uma bela mulher adormecida, suavemente talhada em crisópraso com dois escaravelhos em ouro esmaltado de cada lado da cabeça, no lugar biológico dos olhos do inseto. Esta metamorfose de libelinha, alude ao estágio de ninfa destes insetos e cita subtilmente as náiades, divindades gregas das águas de rios e lagos, que sempre interagiram misteriosamente com os homens. 
Calouste Sarkis Gulbenkian colecionou metodicamente quase toda a produção do seu amigo René Lalique. Mas quem foram as mulheres que usaram todas estas joias do colecionador, como por exemplo, a “Mulher- libélula”?  Apenas temos notícia da atriz Sarah Bernhardt, amiga de Gulbenkian, confirmada por fotografias onde aparece com peças de Lalique, como é o caso da tiara das serpentes, ao incorporar a personagem Cleópatra
Libelinha emergindo do seu invólucro de ninfa.
Sarah Bernhardt no papel de Cleópatra. 

Comentários

  1. Respostas
    1. Augusta Araújo: Ainda tem dois textos do mesmo teor.
      http://miguel-horta.blogspot.pt/2017/11/a-ilha-do-amor-museu-gulbenkian.html
      http://miguel-horta.blogspot.pt/2017/11/cabeca-do-rei-senuseret-iii-museu.html

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