Para que se encontrem, basta que ambas queiram
No dia 18 de novembro, a
convite de Filipa Oliveira, tive o prazer de orientar um encontro formativo
sobre Museus e Escolas na Fundação Eugénio de Almeida em Évora. Foi um encontro
muito concorrido, com professores participativos, intervindo bastante ao longo
das três horas de formação que começou com uma visita/desafio à exposição
temporária patente no museu. Na véspera escrevi o pequeno texto que aqui
partilho convosco, sem saber que professores iria encontrar… Aproveito para enviar um abraço à Marisa Guimarães e ao João Pedro Mateus - obrigado pelo apoio que me deram durante a intervenção.
Uma instalação de Anna Maria Maiolino - "Entrevidas"
(Parte integrante da exposição "Vantagens e Desvantagens da História para a Vida" - Curadoria de Paulo Pires do Vale).
Esta instalação com ovos frescos faz a delicia dos visitantes e o afã do serviço de limpeza.
Encurtando a distância entre
o museu e a escola
Como é que eu vos poderei
convencer que um Museu é um recurso muito útil para o universo escolar? Por
aqui, também lidamos com o conhecimento que nos é conferido pela coleção que
dispomos. Até somos bastante rigorosos no que concerne à catalogação,
conservação e dispositivos expositivos com que lidamos. Mas na partilha do
conhecimento somos descontraídos, disponíveis e informais. É que por aqui,
usamos metodologias não formais de educação, privilegiando a livre fruição pela
coleção que dispomos. O grande desafio neste século de “modernidade líquida” (1) é ter a porta aberta à variedade do Mundo, pois o
Museu é uma casa onde deve caber toda a gente! Ter a porta aberta à escola
significa refletir na nossa programação as necessidades de partilha do
conhecimento, não abdicando da linguagem própria dos museus - a Museologia. De
uma forma simples poderíamos dizer que esta palavra significa organizar e
disponibilizar a coleção, democraticamente, acessível a todos (2). Esta emergência da comunicação do conhecimento deu
origem aos serviços educativos que por ali e por acolá vão dando voz a
mediadores de museu (3). Não nos
peçam para ir cegamente atrás das metas curriculares ou outras orientações
emanadas do poder, pensem no museu como um espaço que vos pertence, lugar de
experiências e apropriação do conhecimento ao ritmo natural de cada um de nós –
o público. O museu permite o crescimento interior do conhecimento de forma
holística, onde cada obra de arte é uma janela aberta para o mundo em todas as
suas dimensões, incluindo a 4ª, o tempo de mão dada com o espaço. Cada museu, à semelhança de uma escola, tem pessoas
reais que lá trabalham, possui uma coleção específica, tem uma determinada
escala, situa-se num lugar específico e tem um estatuto social determinado;
todas estas coordenadas definem uma personalidade própria, o que vai ditar o
relacionamento específico com a comunidade envolvente. Quem se quer relacionar
com o museu deverá conhecer esse universo – se a comunidade educativa quiser
estar próxima do museu é só bater à porta. Os museus já estão a fazer o seu
trabalho de casa, aproximando-se da comunidade educativa. Como o Tio Alberto sempre
dizia: para que duas pessoas se encontrem, basta que ambas queiram. O grande aliado do professor
dentro do museu é o mediador cultural (4). É ele que estabelece as
pontes, prepara a visita, a oficina, a relação com a escola. Deverá refletir
sobre a coleção e espelha-la no plano das intenções dos curricula. É um
trabalho de investigação que merece todo o nosso respeito. O Mediador é o
anfitrião, o facilitador de uma relação fluída com o museu. A par do ofício da mediação,
a programação (sobretudo a educativa) assume um papel fundamental. Pode existir
uma programação a pensar na proximidade. Se a matéria exposta parecer complexa,
estou certo que a equipa educativa e os curadores conseguirão estabelecer pontes,
fidelizando públicos e abraçando novos.
(1) Citando Zygmunt
Bauman
(2) Depois de
uma resposta simples, o melhor é conferir com uma opinião académica:
“Conceitos-chave de museologia”
por André Desvallées e François Mairesse -Editores Bruno Brulon Soares e Marilia Xavier
Cury
(3) Conferir a visão de Medição Cultural expressa pela Mapa
das Ideias no projeto Museum Mediators, aqui
(4) Denise
Pollini, coordenadora do Educativo do Museu de Serralves, diz com imensa graça
que não gosta da palavra “monitor” – os mediadores de museu não são monitores
de televisão.
Comentários
Enviar um comentário