Viseu: Residência artística na Cadeira Amarela
Aquilino Ribeiro tinha um ex-Libris que anunciava no rosto
dos seus livros uma intenção sobre a vida - “Alcança quem não cansa”, lia-se na
vinheta que representava também um cão perseguindo o seu dono que, a cavalo, se
fazia a um longo caminho. Vale a pena procurar este registo, que associo à Cláudia
e a outras boas pessoas da Beira. Cláudia Sousa é uma mediadora cultural de mão
cheia, associada agora ao movimento de recuperação do Bairro Municipal de Viseu
através da associação Movimento pelo Bairro, propondo uma residência artística
em torno da palavra, (inspirada no seu projeto “Flores de Livro”) que
acontecerá de 4 de janeiro a 6 de fevereiro. Mas nada melhor do que as palavras
da Cláudia para explicar, um, pouco melhor, as intenções desta iniciativa: O primeiro passo para esta residência foi em Outubro e para
mim, que dinamizo o projecto Flores de Livro, era importante que acontecesse em
Janeiro. Queria criar grupos de trabalho e Momentos de Contar. As oficinas para
dinamizar os grupos de trabalho teriam de ser pagas, questões de sobrevivência
de qualquer pessoa, mas os participantes poderiam recuperar, através da
apresentação de trabalhos nos Momentos de Contar, pelo menos parte desse
investimento. A Cadeira Amarela e a Companhia DeMente acolheram este projecto
e, desde o início, que contribuem para a sua concretização. No início de
Dezembro, alargar esta residência até ao Bairro Municipal pareceu-me que também
devia ser prioridade. Por achar que a poesia tem, muitas vezes de forma rápida
e curta, o remédio, ainda que momentâneo, para os males desta vida, e
articulando com o Movimento pelo Bairro, convidou-se o Miguel Horta, o Carlos
Clara Gomes e o António do Gil a fazer uma selecção de livros de poesia para
partilhar com moradores e com quem mais se quisesse juntar ao Bairro, no
bairro. À Cláudia Beatriz Carvalho Fonseca, pedimos que dinamizasse uma sessão
de Canto de Colo, para bebes até 3 anos e suas famílias (mãe, pai, avós,…)
também no bairro. Simbolizar a necessidade de cuidar, para garantir os direitos
humanos e um futuro com gente pequena crescendo saudável e feliz. E fiquei
muito contente quando no final de Dezembro soube que o projecto Casa de
Histórias, do Movimento Pelo Bairro foi contemplado com o apoio do programa
Viseu Terceiro, e também que aceitaram suportar despesas com os convidados que
vêm de mais ou menos longe para ajudar a construir este projecto. Nesta altura
já a exposição do Sami Wilfred Hildonen estava a ganhar consistência, e a Sidarta
se via envolvida na apresentação das Rimas Salgadas/encontro com o autor e
conversas participadas sobre Intervenção pela Arte com a Laredo, a Companhia
DeMente, Flores de Livro e com quem mais, da comunidade local, se queira juntar
a esta conversa. Mais ou menos a meio do caminho,
entre a Cadeira Amarela e o Bairro Municipal, mesmo antes do Natal, o Hotel
José Alberto disponibilizava-se para acolher colaboradores e receber um Momento
de Contar para adultos/comunidade. É lá que vão acontecer os Contos Eróticos pela Cláudia
Beatriz Carvalho Fonseca, que costuma gostar de ser surpreendida por ouvidores
que tragam qualquer coisa para dizer, contar e/ou cantar. A associação desta
residência com o Workshop de Iluminuras, que já estava a ser desenvolvido na
Cadeira Amarela, pela Teresa Gama, também fez todo o sentido e irá permitir
algum cruzamento entre uma forma muito específica de ilustração, tradição oral
e histórias. Agora é tempo da participação e dinamização, tempo de morar nesta
residência. Espero que seja muito construtiva para todos os que optem por
participar. O primeiro Momento de Contar conta com a participação especial da
D. Felizarda Cataistórias. Estou grata a toda esta gente, à Ana Rosa Assunção
pelo desenho e design e a mais uns quantos que não valerá a pena mencionar, mas
que vou levando comigo na bagagem e/ou nas linhas da minha mão. Adiadas ficaram
algumas ideias, mas estamos no início do ano e nenhum projecto acaba no final
desta residência.
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