"Leituras em cadeia", Tires, 9 de Novembro de 2015
Segunda-feira, o sol entra pelas janelas gradadas da Biblioteca do pavilhão A do Estabelecimento Prisional de Tires, a sala está bem
composta e a equipa do espaço de leitura muito atarefada. O professor Luís e 3
residentes (preferimos chamar assim às reclusas) entrevistam quem vai entrando
pela porta da Biblioteca Prisional; têm uma lista de géneros literários e interesses de leitura, dispostos por colunas e vão conversando com as detidas, preenchendo as folhas
que ajudarão a estabelecer o “perfil leitor” de quem vive no pavilhão A. A
conversa é calma e disponível: “O que gostas de ler? Não lês? Mas gostas de
revistas e quebra-cabeças? A tua língua materna é o Crioulo – sabes que tens
alguns livros em língua Cabo-Verdiana? Histórias de Vampiros? Também temos!
Ahhh, romances de amor… Um dicionário de sonhos? Vamos tentar arranjar.”Noutra
mesa, uma outra residente recebe os livros devolvidos, anotando metodicamente
numa ficha e procede ao empréstimo domiciliário (por aqui, o domicílio é a
cela), trocando impressões sobre as escolhas, levantando-se de vez em quando
para ir buscar às estantes mais uma sugestão. Aos poucos vão conhecendo a
coleção e os seus leitores. De pé, junto à estante, continuo a minha escolha de
livros para a sessão de mediação leitora que decorrerá a meio da semana; observo
discretamente a cena e comovo-me com todo aquele movimento, impensável há uns
meses atrás. À mesma hora, num gabinete com computador noutro edifício da prisão, a técnica Georgina envia um email aos parceiros da Biblioteca Municipal. Assim vem sendo o projeto "Leituras em cadeia"...
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