A casa de Canas
A luz coada da casa ajuda-me a pensar. Movimento-me nas
penumbras silenciosas, acariciando cantos acolhedores. A casa fala comigo,
sinto-o. Fico mais calmo, mas sem conseguir ler. Não é uma insónia, lá fora
brilha o sol e reina o vento, é antes uma vigília de ideias que me assalta no
corredor entre a sala e a cozinha. A casa, como uma concha, fecha devagar as
paredes sobre mim, como um manto seguro sob o qual posso adormecer. Os amigos
estão lá, movem-se também, com as suas vozes, pela luz escassa e espessa que
desenha as divisões; a sua presença acentua a disponibilidade do espaço,
íntimo. Do âmago desta casa tenho um bom ângulo de visão sobre a minha vida: protegido
posso olhar através das paredes em direção ao futuro.
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