INARTE: Inclusão e Arte
Conheci o Pedro Sena Nunes há dois anos na primeira edição
do Projeto 10x10 (Descobrir/Gulbenkian). Gostei do brilho e da energia que
emanava, mas sobretudo tocou-me a curta-metragem que nos mostrou, onde uma mulher
grávida dançava nadando ladeada por jovens com paralisia cerebral, numa
harmonia aquática: moviam-se num líquido primordial comum. Algum tempo depois,
participei no encontro INARTE (inclusão e arte) com uma pequena provocação em
torno do desconhecimento que temos do Outro, habitualmente rotulado com uma
qualquer convenção confortável que nos garante uma distância cómoda da
diferença. A imagem e objeto que escolhi foi uma ostra. Pude assim partilhar
com assistência, cheia de diferenças, a imagem do caminho que venho trilhando
em direção ao outro, consciente da nossa breve existência aqui neste lado da
vida.
Como sabem, nas “Oficinas Museu Aberto” (Programa Descobrir/Gulbenkian),
desenvolvemos em profundidade um trabalho especializado junto de públicos com
necessidades educativas especiais. Simão Costa (também artista do 10x10) que
vem dinamizando a oficina “Eu sou Som” propôs que divulgássemos o nosso
trabalho no INARTE. Achámos que seria uma boa oportunidade de divulgar o “Labmóvel”
(mecanismo multimédia estruturado em torno do som) e todo o trabalho de investigação
feito junto destes públicos especiais. A Vo'arte acolheu a ideia.
Foto: Vo'Arte - Maria Gomes
Conscientes de
que o trabalho que desenvolvemos é certamente sedutor para os públicos
designados habitualmente como normais, o que mais nos tem empolgado é o impacto
que toda esta metodologia de som pode ter junto da deficiência e da doença
mental. Embora esta metodologia de som tenha um efeito aglutinador e terapêutico
evidente junto dos nossos visitantes com perturbações mentais, centrámos a
nossa participação no INARTE em torno do Autismo e da Multideficiência (mais
profunda). E levámos o nosso “aparato” para o pequeno palco da Culturgest,
apresentando o dispositivo desenvolvido por Simão Costa, partilhando os
diferentes recursos disponíveis e os resultados encorajadores obtidos. Fiquei
muito agradado por ver entre a assistência um pequeno grupo de pessoas que
descreviam com palavras tudo o que íamos fazendo naquele palco, desenhando com
as palavras para que os cegos que escutavam a nossa intervenção conseguissem
visualizar a nossa proposta... Pouco tempo depois já os cabos das colunas do
Labmóvel estavam esticados pela assistência, para que todos pudessem
experimentar a nossa proposta (o mesmo se passou com os Tablets que contêm as
aplicações que utilizamos habitualmente com o nosso público especial).
Ficou
uma interrogação latente depois do encontro: Será que somos verdadeiramente
inclusivos nas nossas oficinas “Museu Aberto”? A resposta é SIM! Sobretudo na
nossa oficina “Sábado sou som” em que reunimos famílias ditas “normais” com
famílias “especiais” para nos conhecermos melhor através do som. Mas também é
certo que a nossa preocupação primeira tem incidido na acessibilidade aos
conteúdos por parte de todos os públicos, independentemente das diferenças que
possuam. Mas a ideia da inclusão vai-se construindo a cada dia…
Foto: Vo'Arte - Maria Gomes
Foto: Vo'Arte - Maria Gomes
Estes
encontros INARTE são um acontecimento impar no nosso país, um fórum de recursos
e pontos de vista sobre a diferença, com destaque para a importância da criação
artística em todo o processo necessário de inclusão das diferenças.
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