Necessidades educativas especiais: O que fazemos no Programa Descobrir/Gulbenkian
O Programa Descobrir
e o seu compromisso na educação artística
junto de
públicos com necessidades educativas especiais.
Foi em 2006, com as “Oficinas Museu Aberto” (setor educativo do Centro de
Arte Moderna) que começou este nosso trabalho continuado com populações
portadoras de deficiência e/ou doença mental, alargando acessibilidades,
promovendo o museu enquanto espaço inclusivo, reforçando a ideia de uma
educação artística como parte integrante da formação completa de cada indivíduo
– um princípio que se prende com o direito de cidadania. Agora, englobado no Descobrir (Programa Gulbenkian Educação
para a Cultura e Ciência), o trabalho tem vindo a crescer assente numa programação unificada dedicada a públicos
com necessidades educativas especiais, agrupada em quatro linhas de orientação
- O
CORPO, O ROSTO, O TACTO e a PAISAGEM que nos envolve - para maior assertividade
na resposta a quem nos procura. São quatro grandes núcleos que contêm propostas pedagógicas diferentes, que são desenvolvidas no Museu Calouste Gulbenkian,
Centro de Arte Moderna, Serviço de Música e Jardim Gulbenkian no formato de
visitas e oficinas de educação artística, cruzando várias linguagens e
materiais numa prática estimulante e especializada, constituindo-se como espaços
de inclusão, criatividade e fruição em diálogo com o património artístico da
Fundação Calouste Gulbenkian.
Uma
metodologia
atenta a
públicos especiais
A metodologia de
intervenção especializada é comum e resulta da experiência acumulada que Miguel
Horta e Margarida Vieira, desde 2006 nas oficinas realizadas no Centro de Arte
Moderna, partilharam com vários colegas que entretanto integraram a equipa (
Rosário Azevedo, Simão Costa, Catarina Claro e Carlos Carrilho). A equipa
tem desenvolvido trabalho com públicos muito diferenciados nas necessidades,
desafios e exigências, planificando e realizando um conjunto de oficinas
criativas especializadas e diversificadas. Estas atividades, que partem da
coleção e das exposições temporárias para descobertas e conquistas pessoais
destes visitantes, complementando a experiência museológica com um trabalho
oficinal, têm demonstrado que a capacidade questionadora da produção artística
gera neste público respostas interiores com evidentes reflexos terapêuticos.
Esta apropriação do museu e outros núcleos criativos da Fundação Calouste
Gulbenkian por parte deste público especial começa numa reunião preparatória
com as equipas das escolas e instituições que, funcionando como anamnese,
permite desenhar quase à medida a passagem dos visitantes pela oferta cultural
que apresentamos; são feitas as necessárias adaptações e afere-se o programa. Os públicos com necessidades educativas
especiais são variados e com diferentes graus de funcionalidade e
características próprias que exigem da equipa uma capacidade de adaptação e
maleabilidade no tratamento dos conteúdos. Assim, numa mesma semana poderemos
trabalhar com doença mental e, numa outra sessão, receber uma unidade de
autismo de escola pública ou mesmo jovens invisuais ou de baixa visão.
O percurso pelo programa Descobrir é feito de duas formas distintas: ou
seguindo o modelo Visita com a duração ideal de 90 minutos ou sob a forma de
Visita/Oficina em duas sessões de 90 minutos. Esta segunda forma de trabalhar
permite ganhos criativos com esta população específica, permitindo até desenhar
um caminho ao longo do ano pela oferta do nosso Programa. Os dois coordenadores
da equipa vão assim distribuindo o público pelas diferentes propostas, fazendo
a adaptação dos conteúdos e do modo de mediação de acordo com as
características específicas de cada grupo.
Quatro linhas de orientação
Como referimos no início, foi nossa preocupação apresentar a oferta
educativa dedicada aos públicos com necessidades educativas especiais em quatro
eixos de intervenção: o corpo, o rosto, o tato e a paisagem
Começando pelo núcleo em que o Corpo é o elemento central no desenho da
atividade (o corpo como ferramenta de aprendizagem e consciência do eu/outro) temos o
conjunto “Da cabeça aos pés”. Neste
conjunto de diferentes visitas e visitas/oficina trabalhamos o “esquema
corporal” através de diferentes linguagens artísticas, tendo sempre como pano
de fundo as diferentes coleções e recursos artísticos disponíveis na F.C.G. Promovemos
a expressão corporal, o movimento, a representação gráfica, a comunicação
interpessoal, utilizando diferentes recursos; numa oficina poderemos cruzar o
desenho com a dança ou a fotografia, ou então recorrer a meios menos habituais
como o Instrumentarium Baschet ou o inovador Labmóvel.
Instrumentarium Baschet
O Instrumentarium Baschet é um conjunto de 14 estruturas sonoras
construídas a partir de materiais menos usuais nos instrumentos musicais
comuns, como o aço, a fibra de vidro. Criadas pelos irmãos Bernard e François
Baschet nos anos 70 do século XX, estas esculturas sonoras permitem o
desenvolvimento de um trabalho coletivo (ensemble)
onde é promovida a escuta e a comunicação através de uma linguagem sonora.
Mais atual, o Labmóvel, é um dispositivo móvel
interdisciplinar e experimental dinamizado pelo músico Simão Costa. Com ele
temos a possibilidade de criar som e imagem em tempo real através de recursos
digitais. Esta ferramenta em constante atualização e com interfaces acessíveis,
tem apresentado resultados animadores no trabalho com visitantes do espectro do
autismo.
O núcleo referente ao trabalho em torno do Rosto, ficou com a
designação de “Rostos a gosto”,
reunindo um conjunto de oficinas e visitas que abordam a questão da identidade,
partindo de obras de retrato e autorretrato existentes na coleção do Centro de
Arte Moderna e do Museu Calouste Gulbenkian. Do reflexo de cada um no espelho,
parte-se à procura do Eu e do Outro,
utilizando diferentes técnicas e suportes, do desenho à pintura, passando pela
fotografia. Um espaço de autoconhecimento e identificação das diferentes
emoções/expressões espelhadas no rosto.
“Na ponta dos dedos” é
o núcleo dedicado à motricidade fina e literacia tátil. Um conjunto de visitas
e oficinas que se estruturam em torno da tridimensionalidade, propondo um percurso
por várias peças existentes na coleção do Museu Calouste Gulbenkian e do Centro
de Arte Moderna (com destaque para a obra escultórica de Nizuma e Rodin e a
obra de ourivesaria de René Lalique). Estas propostas, transversais ao nosso
público, têm sido cada vez mais procuradas por visitantes invisuais e de baixa
visão, obrigando a uma constante atualização dos recursos de mediação dentro do
museu
Tendo a paisagem que nos envolve como tema central, “O mundo lá fora” propõe a descoberta
do mundo fora de nós, para além das fronteiras da nossa pele. Propomos a
reflexão sobre o meio em que vivemos e procuramos essa relação no Jardim
Gulbenkian e na colecção de paisagem existente no CAM e no Museu Gulbenkian.
Um
museu para toda a família
Foi a pensar no conceito alargado de família, que temos proposto oficinas
criativas, (seguindo a mesma estrutura das sessões regulares) que têm lugar ao
sábado no Centro de Arte Moderna. Estas sessões têm contribuído para o diálogo
entre famílias e a partilha de situações comuns a par da fruição do museu e da
sua oferta. Uma nota importante sobre estas nossas realizações: existe sempre
um lugar reservado para famílias afastadas desta problemática.
Partilhando
a prática
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