A máquina da poesia na Trafaria
Ontem foi dia de “Máquina da poesia” no agrupamento de
escolas da Trafaria, zona TEIP (territórios educativos de intervenção
prioritária). Esta iniciativa da Biblioteca Maria Lamas (rede de bibliotecas de
Almada) teve lugar na biblioteca escolar da escola sede com um oitavo ano
agitado, com um baixo nível de literacia. Foi uma sessão dura com algumas
conquistas. Como sempre, comecei por seduzir os jovens para a causa da poesia
com algumas larachas que soltaram risos e com as palavras de António Gedeão em
Hip Pop e o “Brincador” de Álvaro de Magalhães. Inevitavelmente, havia um cromo
a dificultar um pouco a atividade, numa liderança tonta de quem nunca foi
educado a olhar mais longe a vida. Mas a oficina chegou a bom porto, com
pequenos textos escritos, alguns com uma profundidade assinalável. Precisava de
mais tempo com estes alunos para que alguma coisa se sólido ficasse semeada nas
suas cabeças. Estas intervenções requerem continuidade e nesse mesmo local, a
biblioteca escolar, lugar de oportunidade da educação não formal dentro da
escola. Só com uma metodologia mais aberta poderemos levar estes jovens a
experimentar diferentes recursos e, talvez, conduzi-los à leitura, na
multiplicidade das suas formas.
A experiência dos territórios educativos de intervenção
prioritária (TEIP) teve início em 1996, como consequência da “paixão pela
educação” de António Guterres. Hoje, mais do que nunca, é necessário reavivar
esse enamoramento, pois a escola pública, nestes meios desfavorecidos, é a
última porta segura que se abre a um numeroso grupo de jovens que pouco acesso
têm à produção cultural e a espaços de reflexão pessoal sobre o percurso de
vida. Estamos num momento crítico em que devemos investir a montante numa
escola cultural atenta ao individuo, antes de nos depararmos com o caos que se
vai formando a jusante, numa sociedade cada vez desigual, com sintomas de
marginalidade e violência em crescendo.
E o que é que os mediadores culturais têm a ver com isto?
Tudo, pois deveríamos estar mais presentes na escola pública, numa parceria quotidiana com os professores curriculares. São poucos os mediadores que trabalham na escola e escasso o financiamento na área de educação não formal.
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