A possibilidade do Desenho
A cadela Fiona
entra na sala. Os meninos e meninas afagam o meigo animal, comunicam com ela.
Entre estas crianças, Armindo. Ele demora mais tempo nas festas que faz à
bichinha: é cego, de nascença. Percorre com atenção lendo com os dedos e a
palma da mão todos os detalhes do simpático animal. Demora-se um pouco mais nas
unhas, tão diferentes das nossas; servem para escavar e são duras, resistentes.
Sobe um pouco mais no pelo morno, sente a massa muscular das coxas, completa a
ideia do volume. Na cabeça fica atento a todos os detalhes, tocando, …. A
cadelinha não se queixa. Armindo vai criando dentro dele a imagem do canídeo.
Elisa Gaspar, a professora, pede-lhe para fazer um desenho do que sentiu, viu.
E é espantoso como aquele menino invisual vai desenhando a lápis sobre papel
cebola (onde o traço fica registado um sulco táctil) a imagem que apreendeu da
cadela, projetada no mesmo córtex dos meninos sem limitações.
Não consigo evitar todas as perguntas que venho fazendo sobre o Desenho que para mim, para além de traço e sombra é também sulco táctil, memória de matéria; o Desenho para além do rasto do pó da grafite ou do pigmento depositado. Falo da possibilidade e alcance do Desenho, dessa característica que o faz transcender os limites do suporte e da ferramenta, devendo a existência primeira à sua natureza conceptual que risca no cérebro uma direção, uma intenção.
Esta minha presença nas escolas, junto das unidades de ensino especial, tem-me feito crescer. E por terra vão ficando uma boa mão cheia de preconceitos, de braço dado com uma série de interrogações.
Não consigo evitar todas as perguntas que venho fazendo sobre o Desenho que para mim, para além de traço e sombra é também sulco táctil, memória de matéria; o Desenho para além do rasto do pó da grafite ou do pigmento depositado. Falo da possibilidade e alcance do Desenho, dessa característica que o faz transcender os limites do suporte e da ferramenta, devendo a existência primeira à sua natureza conceptual que risca no cérebro uma direção, uma intenção.
Esta minha presença nas escolas, junto das unidades de ensino especial, tem-me feito crescer. E por terra vão ficando uma boa mão cheia de preconceitos, de braço dado com uma série de interrogações.
EB Rio de Mouro – unidade de referência -
2013
quase se sente o balanço daquela cauda a abanar... que bonito pode ser o que não se vê!
ResponderEliminarComo já me conheces, deves calcular que comecei logo a magicar novas possibilidades...
Eliminar...Quando "apenas" se sente!!
ResponderEliminarMuito bom!! Obrigada Miguel!!
Sentir é ver pelo lado de dentro. Belo trabalho da professora Elisa.
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