Experimentar, partindo do núcleo museológico do Pisão
No Centro de Apoio Social do Pisão (Alcabideche) tenho vindo
a desenvolver, com os técnicos e voluntários, modelos de mediação cultural
junto dos utentes desta histórica instituição. De momento estamos a trabalhar o núcleo museológico devolvendo o seu conteúdo aos utilizadores atuais do Pisão.
A ideia é conseguir que alguns dos utentes (portadores de doença mental) sejam
os monitores deste pequeno museu. Estamos a construir guiões de trabalho e já
fizemos uma primeira visita/oficina (“Recontar o Pisão”) a pares
(utente/técnico) à coleção. Durante 90 minutos construímos pequenas narrativas
(escrita criativa) partindo de objetos do museu e personagens descobertas nas
fotografias antigas expostas. Aqui fica um exemplo de um dos textos surgidos a partir da
observação de uma interessante fotografia a preto e branco (exposta no núcleo museológico - em cima) e uma enxada (objeto escolhido):
“Um rapaz com ar pensativo, cara apoiada na mão sobre a face
direita. Olha interessado e interrogativo, apoiado no varandim. – Mas porque é
que ele me está a fotografar? Um homem segura um cão em posição de pose para a fotografia.
Sorri. Era talvez o melhor tempo de lazer que ali tinha. – Aqui o Bobi também
fica na foto. Eles eram obrigados a trabalhar muito, enxada na mão,
lavrando o campo. Por isso é que vemos um guarda na fotografia. A Colónia
Agrícola do Pisão era autossuficiente. Alguns estão de paus na mão. Um jovem
segura uma cana fazendo de conta que é uma flauta. Eles gostam muito de música,
pois sem ela a vida seria muito monótona”
Algumas peças expostas que serviram para inventar textos
Gostei muito da avaliação que os
utentes fizeram no final da atividade – Um dos participantes referiu que tinha
sido importante para conhecerem a história do Pisão através da “visita dinâmica”,
outro falou sobre a evolução das políticas de saúde… Referiram ainda, como
tinha sido importante conhecer o museu e pensar no futuro e que “sim, que a
atividade tinha servido para se cultivarem”. Falou-se muito do tempo em que a
instituição se chamava Colónia Penal e Agrícola do Pisão e das profissões que
antigamente ali existiam. O senhor Amadeu comentou que tinha ficado curioso
sobre a forma como os residentes se ajudavam uns aos outros naqueles tempos. Temos
consciência da necessidade de adaptação do discurso de mediação aos diferentes
graus de literacia existentes entre os utentes; por vezes, a solução é registar
as palavras dos participantes durante a atividade. Estamos a pensar formar
outro grupo que aplique a “Máquina da poesia” naquele núcleo museológico.
Comentários
Enviar um comentário