Leituras em cadeia: Contar na prisão

Talvez tenha feito ontem uma das melhores sessões de conto deste ano letivo. Foi na escola do estabelecimento prisional de Tires com 36 reclusas e docentes, no contexto do Projeto Leituras em Cadeia. Num primeiro momento escutei as queixas das reclusas sobre a biblioteca do Pavilhão B. As residentes que tinham frequentado a biblioteca prisional do Pavilhão A (onde decorre o projeto Gulbenkian – “Leituras em cadeia”- dinamizado pela Laredo Associação Cultural) queixam-se da falta de livros e de condições para a pesquisa, afirmando que existem grandes limitações à circulação de livros entre a escola e o Pavilhão B. Referem, ainda, que a biblioteca do pavilhão A é mais agradável e organizada. Depois de alguma conversa lá começou a sessão com um momento inicial em que algumas reclusas de origem Guineense e cabo-Verdiana quiseram tirar dúvidas sobre a escrita do crioulo: dei alguns exemplos no quadro e falei do ALUPEC (Alfabeto unificado para a Língua Cabo-Verdiana). Finalmente chegaram os contos! Num diálogo quase horizontal fui dando exemplos de diferentes formas de narração oral: do conto cantado, ao conto com livro na mão, conto tradicional, conto rimado… Contei duas curtas histórias sobre almas penadas (passada em cabo Verde) e outra sobre duas navalhas enfeitiçadas (Jorge Luís Borges) que recolheram o aplauso de todas as residentes da prisão de Tires, presentes na sessão. Não é que estas mulheres me acompanharam cantando o “Vamos à caça do Urso” (um divertido livro para crianças de Michael Rosen - vale a pena ver e escutar o autor!)? Correu muito bem! Bom ambiente no encerramento de ano lectivo na escola do estabelecimento prisional. No Verão, além da vertente formativa e da ilustração, prosseguiremos no caminho das formigas, de qualificação dos meios e dos serviços da Biblioteca, diariamente presente para todas as residentes (reclusas). Mas de tudo isto, vos iremos dando notícia.

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