Insónia
Estudo de rascasso para as guardas do livro ("Rimas salgadas)
A minha Tia partiu
esta semana. Encerra-se uma geração tornando-se a seguinte legado. Sofremos,
cada um a seu modo. Contou-me o meu primo que numa das noites que se
antecederam, quando a insónia o invadia, levantou-se da cama, preparou o
material de pesca com cuidado para não acordar a família e no meio do breu saiu
da serra em direção à nossa aldeia favorita na costa. Aparelhou o seu barco e
conferiu a palamenta zarpando mar fora, muito antes do romper da aurora. Apenas
dois ou três pescadores movendo-se no negrume da calheta carregavam as artes
para as embarcações. Nasceu o dia sobre o mar e ele naquela solidão gostosa de
quem pesca sozinho, arrumando as ideias enquanto se retira um peixe das águas
ou navegando de um lado para o outro. Conheço bem o que se sente, mas não sei explicar;
quantas vezes fui o único tripulante...
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