"Carapau de corrida" - Ilustração para o livro "Rimas salgadas"
Acabei por substituir este desenho por outro onde o peixe ficou mais reconhecível
Pediu-me o Professor Mário Ruivo, para falar um pouco sobre
o meu livro “Rimas salgadas” que será apresentado no dia 3 de junho na Fundação
José Saramago (18h). Não se sabe muito bem onde começa um livro…o mais certo é
começar com um pequeno poema que vai flutuando na cabeça enquanto decorrem os
dias. Depois, há um momento habitualmente despoletado por uma criança, a
vontade muito grande de comunicar com essa pequena pessoa. Bom, talvez tudo
isto tenha começado na minha infância, na praia do Vau (Portimão) numa daquelas
madrugadas que antecedem um memorável dia de pesca a bordo do Sabiá (o barco do
meu Tio). Ou ainda, mais pequenino, revirando as pedras na maré vazia à procura
de animais escondidos nas poças de água, sendo surpreendido por um polvo bebé
muito zangado que logo tingiu tudo de preto com o seu ferrado. O certo é que
todo aquele azul que despenhava em ondas sobre os meus pés continha algo de
intrinsecamente concordante com os meus olhos e com a minha existência, ao
ponto de passar intensamente para a minha pintura. Agora está aí o livro e
responde a algumas preocupações que me veem assaltando. As crianças sabem pouco
sobre o oceano; não há tempo para o mar no meio de tanta meta curricular, sendo
certo que só conseguimos defender aquilo que conhecemos bem. Os mais pequenos,
mesmo aqueles que vivem perto do mar não conhecem o nome e os hábitos das
criaturas marítimas. Tenho a noção de que é preciso conhecer o Oceano, para
melhor o defender; e esta é a tarefa das próximas gerações! Achei que seria
possível fazer um livro em que as ilustrações se aproximassem da realidade sem
a frieza da ilustração científica. É possível escrever de uma forma simples
sobre a biologia. Alguns poemas são cantáveis, outros convocam ritmos urbanos, testemunho
da mediação leitora que venho fazendo nos mais diversos contextos. Agora que o
nosso país se bate pelo reconhecimento da extensão da plataforma, o que nos
conferirá soberania sobre uma vasta região do Atlântico, este livro traz
consigo o meu gosto latente pela geologia e pela biologia marítima, a par de
uma grande admiração pela tarefa da investigação. Eu nunca mergulhei num
batiscafo, como fez Mário Ruivo, observando pela vigia uma miríade de
misteriosas criaturas e fenómenos naturais, mas espero que este pequeno livro
seja uma janela de descobertas e sedução para as crianças leitoras que o folheiem.

Comentários
Publicar um comentário