Respondendo a Jaciana

Pergunta-me a Jaciana, do outro lado do Atlântico, como constituir uma coleção em Biblioteca Prisional. Entre nós, em prisões de maior dimensão, é frequente o acervo estar repartido por diferentes alas (pequenas bibliotecas) como acontece no Estabelecimento Prisional de Lisboa mas, na maior parte dos casos, existe uma biblioteca central que serve todo o estabelecimento. Quando o mediador do livro ou bibliotecário chega a uma prisão pode encontrar coleções muito diversas e situações físicas (espaço) bem distintas: ou encontramos uma biblioteca já constituída ao sabor dos diferentes intervenientes que por aí passaram, gerindo aquisições e doações ou um espaço vazio (por exemplo numa ala) que é necessário construir. Poderão ser bibliotecas grandes, médias ou simples celas transformadas para esse novo objetivo.
E por onde começar? Por observar e entender a composição da população reclusa, os diferentes graus de literacia, nível etário, género, motivações, caraterísticas culturais, relacionando tudo isto com a sociedade em geral O conhecimento profundo da coleção existente e a posse de objetivos claros de mediação do livro e da leitura, ajudam no momento da escolha de livros e outras peças do acervo, numa opção verdadeiramente assertiva para uma população reclusa específica. Importa ter a consciência de que uma coleção não é estática, ela evolui ao longo dos tempos, adaptando-se aos interesses dos reclusos e ao trabalho que em prol da literacia que se vá desenvolvendo, sempre em relação á nossa sociedade em constante mutação.
Poderíamos falar primeiro de uma coleção de base, constituída por obras aqui consideradas de referência (dicionários, enciclopédias, código civil…) ao qual se acrescentaria um conjunto de obras fundamentais para a cultura universal, integrando aquelas que se referem aos cânones do próprio país. Constituído este primeiro grupo repartido por Literatura, poesia (…) classificado preferencialmente em CDU poderemos então pensar nas outras escolhas aplicadas à população prisional. A existência de periódicos e revistas, banda desenhada (“quadrinhos/gibis”), tem-se demonstrado como uma boa ferramenta de sedução do espaço de leitura prisional. A banda desenhada e a poesia são sempre muito requisitadas em contexto prisional bem como os grandes sucessos editoriais. O humor tem o seu lugar na coleção bem como o policial, romance, aventura, suspense. Mas sobretudo a coleção é feita a partir das pessoas, futuros leitores.

Perguntar também ao Bruno Eiras - Entre estantes

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