Brinquedos indutivos e comunicação

Quando trabalho com crianças com dificuldade de comunicação, fechadas sobre si mesmas numa defesa de quem parece não querer entender o mundo (ilhas isoladas que amedrontam pedagogos), uso diferentes estratégias tranquilas de aproximação. Primeiro observar tranquilamente, perguntar a quem trabalha todos os dias com o grupo de alunos especiais, tomar notas e refletir delineando. Chego. Posso trazer um objeto intrigante, sonoro, luminoso ou simplesmente usar o corpo, o movimento, construindo pequenas provocações que abram caminho à comunicação. Na maior parte das vezes, em crianças do campo do autismo, começar imediatamente pela palavra direta ou pelo toque, não é aconselhável. O sucesso da abordagem nunca está garantido, o que importa é não esquecer o objetivo de criação do vínculo (educador e criança) como garantia de um trabalho em continuidade. Como não posso ficar para sempre nos lugares de intervenção, apresso-me a partilhar as ideias com docentes, mediadores e outros profissionais, promovendo pares (tandem) de alunos que continuem a utilizar as ferramentas e metodologias apresentadas.

O corpo é a nossa primeira ferramenta e o traço, muito antes da escrita, acompanha o corpo em todos os percursos e direções. Sem darmos por isso, ao deambular pelo mundo riscamos rotas, construindo aos poucos uma cartografia pessoal. Também, a competência da palavra antecede a escrita; começamos pelo palrar, balbuciar, ecolalias e outras vocalizações são importantes na construção de um primeiro diálogo. Se aliarmos estas manifestações da voz ao movimento do corpo, estaremos a criar possibilidades lúdicas de comunicação com as crianças. Gosto de propor um conjunto de exercícios em que o desenho e o movimento estão presentes, utilizando por vezes alguns brinquedos indutivos; reagem à presença de objetos ou alterações na cor, provocando a ignição de motores e mudanças de rumo. As bolas voadoras, que reagem à presença dos corpos – funcionam bem a dois, ideais para as aulas de educação física com a turma toda, incluindo alunos sinalizados. Quem frequentou o curso presencial da Laredo Associação Cultural (Verão de 2019), teve a possibilidade de experimentar este recurso (Centro de formação de escolas António Sérgio).

"Ali é a tua casa. Ele passou mesmo ao lado do rio, onde havia uma corrida"
O carrinho indutivo também é um brinquedo inspirador, permitindo aliar ao traço o movimento de uma pequena escavadora. É muito útil numa conversa inicial, sobretudo com rapazes (há outros brinquedos desta família indutiva mais próximos de uma escolha feminina). Com este veículo, podemos estabelecer diferentes percursos e convidar vários amigos para “brincar” connosco. Se o traço estiver mal feito, o carrinho anda mais devagar ou pode até recusar-se a arrancar. Agora, digam-me cá como vão brincar?...




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