Miríade de histórias

"Esta visita é o culminar de um trabalho colaborativo desenvolvido, ao longo de três meses, pelo Serviço Educativo do Museu de Arte Contemporânea de Serralves e a Escola da Ponte, em parceria com a Laredo, intitulado Miríade de Histórias. No lugar de sermos nós, profissionais da educação artística em museus, a ensinar como ver arte contemporânea, pedimos às crianças e adolescentes que participam neste projeto que, através dos seus olhares em formação, nos mostrem como ver de outro modo, sem medo de errar, transportando-nos pela experiência que o encontro com cada obra de arte pode desencadear. Queremos aprender a ver com quem nos visita." (mais aqui)

Se um incauto visitante de museus chegar a Serralves no próximo domingo de manhã, o mais certo é que encontre um grupo de crianças orientando a visita e propondo outras leituras, pelos olhos da infância. Se tudo correr como se espera, as galerias de exposição terão pequenos grupos de alunos da Escola da Ponte mostrando, num domingo, o fruto das suas pesquisas e opiniões nascidas do projeto “Miríade de histórias”, proposto pela Laredo associação cultural. É profundamente inspirador, reconhecer que a descoberta de sentidos e interpretações sobre a coleção do Museu de Serralves foi feita num ambiente de liberdade e pesquisa autónoma proposto por esta escola de referência para todos quanto acreditam que é possível mudar o futuro através da educação. Joana Macedo tem sido o motor (incansável) para esta ideia que também tem como mediadores de serviço Miguel Horta e Susana Tavares, ainda com a presença sábia da Maria José Vitorino que, em Lisboa, nos ajuda a refletir e a organizar o corpo das ideias. Desde o primeiro momento, sentimos o apoio e o envolvimento do Museu de Serralves, expresso pela presença constante de Liliana Coutinho ao longo dos momentos em que o projeto se desenvolve, abrindo as portas do museu a esta iniciativa singular. Ao logo da construção da ideia, lembrei-me sempre de Elvira Leite e da sua “filosofia de projeto” impressa nas iniciativas de Serralves. Tudo isto começa pela ideia, animada pela Joana Macedo que desenvolveu a sua prática pedagógica, também, pela Escola da Ponte. O modelo pedagógico da escola é claramente concordante com a linha de orientação dos Mediadores Culturais da Laredo. Em pouco tempo a ideia estava delineada, tendo sido abraçada pela equipa educativa de Serralves e coordenadores pedagógicos da Escola da Ponte. Os protagonistas, esses, são os alunos da “consolidação” (C2 - um dos três patamares/núcleos de aquisição de conhecimento existentes na escola da Ponte), pequena gente distinta e de opinião própria numa composição inclusiva que muito nos toca. Num primeiro contacto com o museu de Serralves, numa vista (mediada) orientada por Miguel Horta e Joana Macedo, as crianças conheceram o museu e visitaram as obras patentes na exposição “O processo SAAL” que continha um núcleo de peças da artista Ângela Ferreira. Tiveram, também, oportunidade de conhecer a obra de Monir Farmanfarmaian e as suas esculturas recolectoras de luz. Logo ali, foi claro para os mediadores que a questão da arquitetura tinha despertado um interesse especial entre os alunos. Depois fomos seguindo o evoluir do debate e da dinâmica própria da “Ponte”, onde cada criança pede a palavra e tem direito a um silêncio ouvinte, contribuído para a construção límpida das ideias, aprofundada em pequenos grupos de trabalho. Trata-se de um exercício do tempo com qualidade, a lembrar a forma como os artistas constroem as suas obras no coração do ateliê. Nessa vista à escola reconhecemos discretamente alguns ecos da ida ao museu do Porto.
Com os alunos na escola da Ponte
Tem lugar nova ida ao Museu de Serralves, nova visita mediada, desta vez por Susana Tavares e Joana Macedo, com a intenção de apresentar aos alunos outra exposição como ponto de apropriação coletivo para uma posterior partilha. A exposição escolhida foi “Arquitetonização” de Mónika Sosnowska (Polónia). Gostei, particularmente, do recurso escolhido pelas duas mediadoras ao propor a construção de óculos (mágicos) para que o olhar sobre as peças fosse novo, inventando momentos de interpretação dentro do museu. Passou o tempo necessário para o germinar das ideias e regressámos á escola. Nem sei bem descrever aquele encontro na sala das expressões onde refletimos todos, alunos, professores e mediadores, numa situação de horizontalidade absoluta, sobre aquilo que vamos fazer no domingo. Escutámos histórias escritas a partir das obras expostas e opiniões das crianças sobre aquilo que sentiram em contacto com o trabalho de Mónika Sosnowska. A partir daqui, devo guardar segredo e não contar mais nada sobre aquilo que vão encontrar no museu de Serralves no próximo domingo, a partir das 11h. São todos bem-vindos!

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